Todas as vezes que o gestor de um município ou escola com desempenho fora da curva no Ideb é entrevistado, aprendemos que não há nada de extraordinário na receita de uma escola de excelência. O que a secretária de Educação do município cearense de Pires Ferreira, Rosa Matias, disse no Gaúcha Atualidade desta quinta-feira (22) poderia ser aplicado a qualquer município gaúcho. Por que Pires Ferreira? Porque esse pequeno município teve o melhor desempenho no Ideb nos anos iniciais do Ensino Fundamental, foi segundo nos anos finais e o nono no Ensino Médio.
Rosa Matias está na Secretaria de Educação desde 2009. Ou seja: vários prefeitos passaram e ela se manteve, porque a disputa política não invadiu o território da Educação. O que mais chamou atenção na entrevista foi o número de vezes em que ela pronunciou a palavra aluno. Parece óbvio, mas às vezes é preciso lembrar que todas as escolas, os professores e os gestores da educação existem em função do aluno. E que se ele não aprender é porque há algo de errado nesse processo.
Em Pires Ferreira, disse a secretária Rosa Matias, existem metas claras a serem cumpridas. Nenhuma criança é deixada para trás. Já no primeiro dia de aula se faz um diagnóstico das dificuldades para começar a trabalhar com foco. A secretária compara esse trabalho ao de um médico que recebe o paciente para a primeira consulta: ele não pode sair prescrevendo remédios sem saber o que a pessoa tem. Quanto mais precisos os exames, mais assertivo o tratamento.
Nesse pequeno município cearense, as crianças não são aprovadas automaticamente, mas também não são reprovadas. E por que não “rodam”, como ainda se diz no Rio Grande do Sul? Porque aprendem. Isso quer dizer que todas chegam aos oito anos alfabetizadas e os professores não abandonam os que têm mais dificuldades.
Rosa Matias também contou que os professores são valorizados. Não apenas com dinheiro (o município paga o piso “ou um pouquinho mais”), mas com o respeito. O professor é o mestre — e isso significa não permitir que os alunos os desrespeitem. O Estado do Ceará leva a sério o processo de formação continuada, para que os professores estejam atualizados e essa é uma política que vem de longe.
Candidatos a prefeito deveriam parar para ouvir o que a professora Rosa Matias tem a dizer sobre a receita de Pires Ferreira, para nunca mais aceitar a justificativa de que crianças não aprendem porque são pobres ou porque a família é iletrada. A família pode não saber ajudar no tema de casa, mas precisa ser envolvida no processo educacional e isso não se faz por geração espontânea.
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