Quase dois meses após o início do desastre climático no Rio Grande do Sul, o setor produtivo ainda aguarda um programa robusto para preservar empregos e considera insuficiente o auxílio disponibilizado pela União. De sua parte, o governo Lula argumenta que há restrições fiscais para ampliar a ajuda.
Por ora, o governo se dispôs a pagar duas parcelas de um salário mínimo (R$ 1.412,00), em julho e agosto, para ajudar a custear o salário de trabalhadores das empresas atingidas pela enchente. Em contrapartida, esses profissionais não poderiam ser demitidos até outubro.
No entanto, esse aporte é considerado tímido por empresários, por trabalhadores e pelo governo estadual.
— Estamos na UTI, e o governo federal até agora só nos deu aspirina — reclama o vice-presidente Jurídico da Federasul, Milton Terra Machado.
As federações empresariais reivindicam a adoção de mecanismo semelhante ao Benefício Emergencial (BEm), lançado durante a pandemia pelo governo Jair Bolsonaro. A mesma sugestão foi levada ao Palácio do Planalto pelo governador Eduardo Leite, que entregou até a minuta de uma medida provisória ao presidente Lula.
O BEm autorizava as empresas a reduzirem proporcionalmente a jornada e o salário ou a suspenderem contratos de trabalho por até 120 dias, mediante acordo com os funcionários. Nesse período, o governo repassava um benefício de até R$ 1,8 mil aos trabalhadores, calculado com base no valor do seguro-desemprego. Na época, as companhias se comprometiam a não demitir o trabalhador pelo dobro do tempo do acordo.
Embora não simpatizem com a hipótese de suspensão de contratos, as centrais sindicais também reivindicam um programa mais robusto para manter empregos.
—Consideramos esse auxílio insuficiente, pois o valor é muito baixo e o período, muito curto. Deveríamos ter ajuda por quatro ou cinco meses para dar conta da retomada da atividade econômica - avalia Guiomar Vidor, diretor da Central dos Trabalhadores do Brasil no RS (CTB-RS).
Até o momento, não há perspectiva de ampliação do apoio. Em entrevista à rádio Gaúcha, na semana passada, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, alegou que há restrição fiscal para ampliar os auxílios nessa área:
—Nesse momento, não há possibilidade — cravou.
Aliás
Membros de entidades empresariais gaúchas estão convictos de que o governo federal não compreendeu o impacto econômico da enchente para o futuro do Estado. A revolta aumentou com a declaração do secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, de que o resultado será neutro para a economia gaúcha até o final do ano. "Fora da realidade" e "sem noção" são os adjetivos mais leves para caracterizar a manifestação.