A execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) poderia ter sido desvendada nos dias seguintes ao assassinato, mas demorou seis anos para ser elucidada. Foi preciso que a Polícia Federal assumisse o caso para responder à pergunta que faltava: quem mandou matar e por quê?
A investigação séria respondeu a uma pergunta que não estava nos cartazes: quem ajudou a acobertar os criminosos. Nessa resposta, que aponta para o ex-chefe de polícia Rivaldo Barbosa, escancarou-se a podridão do sistema de Segurança Pública do Rio, que à época estava sob intervenção federal.
Compromisso do ex-ministro da Justiça Flavio Dino, o esclarecimento pleno do assassinato de Marielle só ocorreu porque a Polícia Federal, comandada pelo delegado Andrei Rodrigues, fez o elementar: investigou. Além de remover os obstáculos plantados pela Polícia Civil do Rio para que nada fosse esclarecido, a PF trabalhou com foco, certa de que não bastava manter Ronnie Lessa, o assassino, na cadeia. Era preciso chegar aos mandantes.
Por suas ligações com a milícia, os irmãos Brazão eram suspeitos, mas faltavam provas. E faltavam porque o delegado que deveria investigá-los participou do planejamento do crime. Chegou a orientar para que não fosse cometido nas dependências da Câmara, porque isso levaria a investigação para a Polícia Federal. Tudo tão minuciosamente planejado que até a câmera em frente ao local do crime estava desligada.
Chiquinho Brazão é deputado, eleito pelo União Brasil, que agora o expulsou. Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas, um dos afastados naquela operação de investigação de corrupção na qual só restou uma conselheira em pé. Ficou seis anos afastado, voltou ao cargo por força de uma decisão judicial, sempre recebendo o subsídio que, somado aos penduricalhos, vai a R$ 52 mil. E como se isso fosse pouco, ainda recebeu mais de meio milhão de reais a título de indenização por férias não gozadas durante o período em que ficou afastado.
O Rio de Janeiro é um Estado doente, corrompido pelo que de pior uma sociedade pode produzir. O avanço da milícia não ocorreu do dia para a noite. Quem ajudou a aumentar seu poder também matou Marielle e outras tantas vítimas anônimas.