A epidemia de dengue que assola a maioria dos Estados brasileiros está mostrando o quanto a polarização emburrece. Começa pela comparação com a covid-19, que surgiu em 2020, avassaladora e mortífera, causada por um vírus desconhecido. E segue com a disputa pela narrativa em torno da compra de vacinas, espalhando desinformação nas redes antissociais. Seria tão mais simples se em vez de brigar para emplacar uma hashtag as pessoas ajudassem a conscientizar a população para a necessidade de cada um fazer a sua parte e eliminar os criatórios do mosquito transmissor.
É fato que a dengue mata, mas está a anos luz da taxa de letalidade da covid, que no Brasil ceifou mais de 700 mil vidas entre 2020 e 2023. Houve dias em que o país contabilizou mais de 4 mil óbitos, pesadelo que só terminou graças à vacina.
A dengue é uma velha conhecida dos brasileiros, porque temos as condições apropriadas para a proliferação do mosquito Aedes aegypti. Neste verão, particularmente, o número de casos é alarmante em vários Estados, e a situação é de epidemia. A boa notícia é que, diferentemente da covid, combater a dengue é fácil: basta eliminar os focos de água parada para que o mosquito não se multiplique exponencialmente. Eliminar os focos e usar repelente é um trabalho de cada cidadão. Às prefeituras cabe identificar as áreas de risco e aplicar inseticida.
A vacina, pela primeira vez incorporada ao SUS, é muito bem-vinda. Só que não há doses suficientes porque o laboratório japonês Takeda, que produz o imunizante, não dá conta da demanda. O Ministério da Saúde encomendou, mas os lotes chegam aos poucos. Por que os governadores não compram? Porque não tem para vender. O resto é disputa política rasa e eleitoreira.
Aliás
Como a dengue é uma doença de países quentes e com bolsões de pobreza, não há interesse dos grandes laboratórios em produzir vacina, como ocorreu com a covid. Por isso a oferta é restrita e até as clínicas privadas, que cobram R$ 350 a dose, têm dificuldade para atender à demanda.
Esperança que vem do Butantan
A esperança do Brasil é a produção da vacina do Butantan, que está em fase de testes e deve estar no mercado em 2025, depois de passar por todas as fases de aprovação na Anvisa. Mesmo assim, não substituirá os cuidados básicos de higiene e eliminação dos focos de água parada, que são o habitat do mosquito.