No mundo civilizado, a vacinação contra o coronavírus está sendo feita acima das disputas políticas, sem vaidades e sem histeria. No Brasil, ensaia-se uma disputa insana de protagonismo, com o Ministério da Saúde determinando que a "hora H" do "dia D" é 10h de quarta-feira, 20 de janeiro. Por essa orientação, repassada aos prefeitos pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, nenhum Estado pode aplicar a primeira dose antes. Tudo para não ofuscar a solenidade marcada para o Palácio do Planalto.
Ora, o Brasil tem pressa. Por que não começar a vacinação tão logo as cargas comecem a chegar aos Estados? Para que cerimônia, se o que importa é imunizar o maior número possível de pessoas e quanto mais cedo melhor? O governador de São Paulo, João Doria, ensaia furar a bolha, para garantir a foto histórica. Disputa de protagonismo com o presidente Jair Bolsonaro, já que os dois são pré-candidatos ao Planalto em 2022. Seria saudável que os dois deixassem a politicagem e lado e focassem no que interessa.
Bolsonaro, Doria e as demais autoridades devem se vacinar para dar o exemplo, como fizeram outros governantes mundo afora, mas sem furar a fila, quando chegar a vez deles, pelo cronograma válido para os demais brasileiros. De resto, ajudam mais promovendo campanha de vacinação do que fazendo disputa política. Terão tempo de sobra para isso em 2022, se forem mesmo candidatos.
No Reino Unido, que aplicou a primeira dose da vacina da Pfizer no dia 8 de dezembro, a contemplada foi uma senhorinha de 90 anos, dona Margaret Keenan. Não se viu o primeiro-ministro Boris Johnson protagonizando briga de beleza com governadores e prefeitos. O que Johnson fez foi apelar aos britânicos para que confiem na vacina, sem descuidar das demais medidas de proteção, porque a pandemia não acabou. A rainha Elizabeth II se vacinou, para dar o exemplo e para se proteger, porque sabe que, embora longeva, não é imortal.
Aliás
No Rio Grande do Sul, a primeira pessoa a ser vacinada será alguém da linha de frente do combate ao coronavírus. Com 35 anos e boa saúde, o governador Eduardo Leite, que teve covid em julho, deve ficar para o segundo semestre.