
Enquanto o Estado e o país enfrentam um rápido avanço no número de casos de dengue, os países vizinhos também passam por uma crise ligada à doença. Argentina e Paraguai, especialmente, têm reforçado ações internas para frear proliferação do mosquito Aedes aegypti.
O coordenador da Comissão de Controle de Infecção do Hospital São Lucas da PUCRS, infectologista Diego Falci, lembra que as Américas concentram 80% dos casos de dengue no mundo e o Brasil, por sua extensão, e seus vizinhos, estão propensos ao impacto do mosquito.
— Evidentemente que nos preocupa o aumento de contaminações nos outros países, mas é importante dizer que este é também um problema do nosso país. Mais da metade dos casos de dengue, no mundo, estão no Brasil — reforça o médico, que integra a direção da Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI).
Para Falci, o desafio maior, no momento, é evitar a circulação de diferentes sorotipos da doença (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4).
— No Brasil, temos os dois primeiros com mais intensidade, mas temos o ressurgimento do terceiro. Então, quando temos outros países afetados e movimentação de pessoas passando pelas fronteiras, favorece a circulação destes sorotipos diferentes. Episódios de infecção por sorotipos distintos podem contribuir com o aparecimento da dengue mais grave, a hemorrágica — acrescenta o infectologista.
O especialista elenca as mudanças nas condições climáticas (calor e chuva), urbanização desenfreada e questões ligadas à educação da população como fatores que facilitaram a multiplicação do Aedes aegypti nos últimos anos.
Números em países vizinhos
Desde o segundo semestre de 2023, considerado o ano epidemiológico atual, 36 pessoas já morreram de dengue no Paraguai, onde, atualmente 755 pacientes estão internados por conta da doença, 39 em estado grave, segundo informações do Ministério da Saúde e Bem-Estar Social, na última atualização de sexta-feira (2).
Na região de Ciudad del Este, na fronteira com o Paraná, a procura por atendimento médico na rede pública dobrou nas últimas três semanas e a previsão local é de que possa se agravar nos próximos dias.
"Se continuar nesse ritmo, a meados ou no final de fevereiro teremos o pico, essa é a projeção que temos. A quantidade de consultas que temos por casos de febre aguda duplicaram, embora isso ainda não se reflita nas internações" afirmou o diretor do Hospital Regional de Ciudad del Este, Federico Schorel, ao jornal La Clave.
Na Argentina, 135 mil contágios foram registrados na temporada 2023/2024, com 68 mortes relacionadas à doença transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Segundo o Ministério da Saúde do país, as províncias que fazem fronteira com Paraguai e/ou Brasil são as mais atingidas. Em Misiones, fronteira com a região noroeste do RS, dez óbitos foram confirmados, o último deles na terça-feira (6).
O governo do Uruguai chegou a emitir um alerta sobre possível proliferação do mosquito após enchentes no país, em dezembro. Os casos, no entanto, são menores em relação aos vizinhos.
O Ministério de Saúde Pública uruguaio registrou, em janeiro deste ano, oito casos de dengue, todos importados — cinco pacientes que haviam voltado ao Paraguai, dois da Argentina e um do Brasil.