O que o ex-presidente Jair Bolsonaro temia desde que era presidente aconteceu: a Polícia Federal bateu na casa de seu filho Carlos, o cérebro por trás das redes sociais da família. Nos últimos dias, a bola de cristal de Bolsonaro deve ter captado no ar que a hora de Carluxo estava chegando.
No dia 24 de janeiro, o ex-presidente escreveu na rede X (antigo Twitter):"As próximas semanas poderão ser decisivas" e "vivemos momentos difíceis, de muitas dores e incertezas".
O material recolhido no gabinete de Carlos, na residência na Barra da Tijuca e na casa de praia do pai, em Angra dos Reis, é farto. São desktops, notebooks e celulares que agora passarão por perícia, mas já se sabe que o inquérito que embasou o mandado de busca e apreensão tem elementos para tirar o sono da família.
Porque, embora Bolsonaro pai tenha dito que não confiava na Abin, Luciana Paula da Silva Almeida, assessora de Carlos, pediu a pessoas que atuavam na Abin à época informações sobre uma delegada que presidia inquérito de interesse do então presidente e de seus três filhos.
Qual é o problema? Ora, isso é uso indevido de uma agência pública de inteligência. Dependendo do que mais venha a ser descoberto, pode ser tentativa de obstrução da Justiça. O tempo dirá.
Mais de um ano depois de o pai ter perdido a eleição que a família considerava ganha, Carlos teve tempo para apagar qualquer eventual vestígio de ilegalidade registrado em seus computadores e celulares. A PF tem como resgatar conteúdos deletados, como fez no caso do tenente-coronel Mauro Cid. E o temperamento explosivo de Carlos sempre foi uma preocupação da família.
Bolsonaro tem razão: as próximas semanas poderão serão decisivas. E serão.
Confusão desfeita e mal-estar
Em meio ao frisson causado pela operação que investiga o suposto uso indevido da Abin por Carlos Bolsonaro, uma informação equivocada divulgada pela jornalista Daniela Lima, da Globo News, foi o que mais indignou a família Bolsonaro. Durante algumas horas circulou a versão de que um notebook da Abin havia sido apreendido com Carlos. Não era nada disso.
O computador da Abin foi encontrado na casa do militar Giancarlo Gomes Rodrigues, também alvo da operação e ex-assessor do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que chefiou a Abin. A mulher de Giancarlo é servidora da agência.
ALIÁS
A equipe do ministro Paulo Pimenta, da Comunicação, errou feio ao zombar de Carlos Bolsonaro usando um card com "toc, toc, toc", como se fosse campanha contra a dengue. O assunto é sério e o uso político da máquina do governo depõe contra uma operação cujo objetivo é desvendar desvio de finalidade (e de conduta) na Abin.