A vitória de Javier Milei ameaça as relações comerciais com o Brasil? Pelo discurso que ele fez durante a campanha, sim.
Na prática, a Argentina não pode se dar o luxo de romper com seu maior parceiro comercial na América Latina só porque os dois presidentes divergem do ponto de vista ideológico. Jair Bolsonaro e Alberto Fernández também não se suportavam e, mesmo assim, os negócios continuaram, embora tenham encolhido nos últimos anos.
Questões pontuais podem ser afetadas. O Mercosul, por exemplo, tende a encolher ainda mais, diante da disposição de Milei de procurar caminhos próprios para a Argentina nas negociações com a Europa e os Estados Unidos. Como o Mercosul é uma promessa que ficou pelo caminho, cada país terá de definir como administrar sua parte no espólio. Os presidentes de Uruguai, Chile e Paraguai também não morrem de amores pelo Mercosul.
Presidente, Milei também não pode dar as costas à China, que compra soja e carne da Argentina. No último debate, ele disse que exportações e importações são negócios entre entes privados e que o governo não deve intervir. Não é bem assim, ainda mais se tratando da China, onde a mão visível do Estado está por toda parte.
Entre o discurso e a prática, Milei, que nunca governou, terá de tomar um choque de realidade. De novo, a experiência de Mauricio Macri pode ajudar o presidente eleito a aterrissar, até porque não tem maioria no Congresso e precisa dos deputados e senadores da direita moderada para governar.