Quem não tem perda de memória recente como a Dory de Procurando Nemo há de lembrar do discurso do presidente Lula na posse de Rita Serrano na presidência da Caixa Econômica Federal. Para quem sofre desse mal, a coluna resgata um pequeno e simbólico trecho:
— Você foi escolhida porque tem uma história, porque muita gente deu referência de você. Eu só espero que você dedique à Caixa aquilo que você dedicou como funcionária, como militante sindical, política e social.
Na montagem do governo, Lula gabava-se de ter o maior número de mulheres no primeiro escalão. Eram 11 de 37. Eram. Não são mais. Menos de um ano depois, Lula demitiu Rita Serrana para entregar a Caixa ao centrão e, assim, reforçar a base no Congresso. Nada consta de desabonador na ficha de Rita, nem que ela tenha pecado por falta de dedicação. Nada disso. Caiu porque há três meses o centrão, na pessoa do presidente da Câmara, Artur Lira, bate pé e quer a Caixa Econômica Federal de porteira fechada, o que significa com todas as suas diretorias e vice-presidências.
É verdade que antes o centrão tentou derrubar outra mulher, a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Lula fez chegar ao grupo que tudo tem limite e que de Nísia não abriria mão.
O centrão, então, mirou em outra mulher: Ana Moser, ministra dos Esportes. O presidente entregou a cabeça da ex-jogadora de vôlei na bandeja. Não porque fosse incompetente, mas porque deu azar de cair no ministério que iria para a bacia das almas, lá onde o troca-troca é sacramentado.
Outra mulher que caiu foi a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, conhecida como Daniela do Waguinho, porque ali estava representando a força eleitoral do marido. Caiu porque foi nomeada pelo União Brasil, brigou com o partido e ficou sem padrinho. E, reza o dito popular, quem não tem padrinho, morre pagão. Rita Serrano não tinha padrinho no Congresso (o movimento sindical, que lhe deu respaldo, não tem votos).
Por uma dessas ironias de que só a política é capaz quando não se combinam as agendas, uma hora depois de trocar Rita Serrano por Carlos Fernandes, afilhado de Lira, Lula lançou um programa chamado Brasil sem Misoginia, com o objetivo de "apoiar mulheres em espaços de poder e de decisão".
Lula também já deixou claro que não pensa em indicar uma mulher para a cadeira de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal. Não que faltem mulheres competentes. O que falta é uma com o perfil dos homens brancos que concorrem ao cargo: a confiança irrestrita do presidente.