
O foco na tragédia que se abateu sobre o Vale do Taquari fez com que não tivesse a repercussão merecida a reforma ministerial consumada pelo presidente Lula antes de viajar para a Índia. Antes de falar sobre as vagas abertas a fórceps para reforçar a presença do centrão no governo é preciso recuar um pouquinho tempo e voltar ao momento em que Lula anunciou Ana Moser como ministra dos Esportes.
Ídolo dos brasileiros como jogadora de vôlei, Ana Moser parecia a pessoa certa no lugar certo. Não é o tipo de pessoa que só conhece os esportes como espectadora. Além de medalhista olímpica, é uma mulher de sensibilidade social e a expectativa era de que levasse adiante programas de atenção a crianças e adolescentes da periferia, por meio do esporte. No primeiro semestre, o trabalho dela, como o da maioria dos ministros, passou em branco.
Para contemplar o PP e o Republicanos, que entram divididos no governo, e fidelizar alguns votos a mais no Congresso, Lula precisava criar dois ministérios ou rifar dois integrantes da equipe original, de preferência que ocupassem funções atrativas. Lula rifou dois e ainda confirmou a criação de mais uma pasta, a 38ª, para a Pequena e Média Empresa.
Ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França foi defenestrado porque seu partido, o PSB, só tem 15 votos na Câmara. O PP em 49 e o Republicanos, de Silvio Costa Filho, sucessor de França, 41. O PSB ainda perdeu uma fatia do Ministério da Indústria e Comércio, comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
Ana Moser caiu porque ocupava um ministério cobiçado, com dinheiro e poder, e não tem filiação partidária. Foi substituída por André Fufuca (PP), o que tem jeito de piada pronta. Trocar uma atleta consagrada por um obscuro deputado que escolheu “Fufuca” como nome político já dá uma ideia do critério — ou falta de — nessa mudança ministerial.
Como disse Ana Moser na saída, a questão é política: o governo precisa de votos no Congresso. Não terá as bancadas inteiras do PP e do Republicanos, mas dividirá os dois partidos para ampliar a base no Congresso.