O estudo divulgado pelo Sesi nesta quarta-feira (10), prevendo um "apagão" de professores no Rio Grande do Sul a partir de 2035, com déficit crescente a partir desse ano, não surpreende quem acompanha o desinteresse pelos cursos de pedagogia e licenciaturas. Já estamos assistindo a um círculo vicioso: cai o número de alunos, as universidades reduzem o número de vagas ou fecham cursos e a formação de professores vai escasseando.
A questão que se impõe é o que fazer com esses dados, detalhados pela economista Ecléia Conforto, gerente de operações do Instituto Sesi de Formação de Professores. Como atrair os melhores alunos do Ensino Médio para a carreira de professor? Como melhorar a formação dos professores, para que o apagão não seja apenas quantitativo, mas também qualitativo? Como garantir que os professores sejam chamados a dar aulas nas disciplinas para as quais são preparados?
Na apresentação dos dados, a própria Ecléia apontou caminhos, que foram reforçados pela gerente de Educação do Sesi, Sônia Bier, e pelo superintendente regional, Juliano Colombo. Um deles é quase chover no molhado, mas precisa ser enfrentado: promover a valorização da carreira de professor. Valorização inclui melhor remuneração, mas não é só isso. É transformar a percepção social da profissão docente no Brasil, como fazem os países desenvolvidos, onde os jovens desejam ser professores.
— A inteligência artificial será importante para realizar as tarefas burocráticas, mas jamais substituirá o professor — diz Ecléia com a autoridade de quem trabalha em uma instituição na qual os professores são valorizados e os alunos são estimulados constantemente a desenvolver o pensamento crítico e o raciocínio lógico.
O problema da futura falta de professores não é só do setor público, onde estudam mais de 80% das crianças. É dos Estados, dos municípios, das escolas privadas e da sociedade em geral, porque não há desenvolvimento sem educação de qualidade. Se as empresas não se conscientizarem de que terão de colaborar para aprimorar a educação, amanhã estarão lamentando (mais do que lamentam hoje) a falta de profissionais qualificados para tarefas mais sofisticadas.
Qualquer executivo sabe que é crucial aumentar a produtividade, mas isso não será feito com mais horas trabalhadas e sim com a qualificação profissional para um mundo em transição. Para que esse processo se complete o professor não pode parar no tempo de sua graduação. Precisa de formação continuada para aprender a usar a tecnologia a seu favor e a favor dos alunos. Precisa estar atualizado com as mudanças que impactam no seu trabalho para ser o mediador que ajuda os alunos a fazerem as perguntas certas para a inteligência artificial e que criam em vez de apenas consumir o que outros países produzem.