Viralizou nas redes sociais um vídeo em que o vereador Aldo Menegheti (MDB), de Balneário Pinhal, vocifera que a prefeita Márcia Tedesco (PTB) deve ir "para a cozinha", "fazer comida e lavar a louça". O discurso ocorreu na última segunda-feira (11), durante sessão na Câmara Municipal.
Menegheti, que é identificado com a bandeira do tradicionalismo gaúcho, narra um episódio em que teria ido buscar a chama crioula em Capivari do Sul, tradição repetida a cada ano durante as comemorações da Revolução Farroupilha. De volta a Balneário Pinhal, o vereador reclama que não foi chamado pelo protocolo de um evento municipal e acusou a prefeita de usar a "coisa mais sagrada que se tem, o tradicionalismo", para fazer política.
Na sequência, emendou:
— Ela usou das coisas que eu mais gosto para me judiar (...). Eu não estava no protocolo da prefeita, por isso que eu não fui chamado. Ela vai para a cozinha para pagar os pecados dela. Cada vez que tu ir fazer (sic) comida e lavar louça tu vai te lembrar do discurso do Menegheti que vai ficar gravado aqui, dona prefeita — discursou o vereador.
O evento do qual Menegheti reclama ter sido esquecido ocorreu há dois anos, segundo ele.
Revoltada com o ataque, que classificou como "violência de gênero", a prefeita registrou boletim de ocorrência (B.O.) contra o vereador nesta quarta-feira (13).
— Muito triste passar por esse constrangimento. Desde que fui eleita eu venho sendo perseguida na questão de gênero. Me causou danos profundos, porque se trata de humilhação, menosprezo, de olhar a mulher como se fosse uma pessoa que só servisse para lavar a louça. Ele precisa estudar muito para chegar ao meu nível. Espero que a Justiça diga isso a ele — desabafou a prefeita.
O advogado do vereador, Alexandre Pacheco Pereira, argumenta que o discurso de Menegheti tem relação com um parecer desfavorável do Tribunal de Contas do Estado (TCE) à aprovação das contas da prefeita de Balneário Pinhal do ano de 2019.
Pereira sustenta que, ao dizer que a prefeita vai "vai para a cozinha", Menegheti se referiu à possibilidade de Márcia ficar inelegível por eventual reprovação das contas.
— Ela vai ficar em casa porque não vai se eleger a nada. Se olhar a gravação completa, é uma fala totalmente política — argumenta o advogado.
O presidente da Câmara, Reni da Silva (PSB), afirma que o Legislativo vai analisar o caso, e não descarta a cassação do vereador.
— O vereador é responsável pelos seus atos. Estamos tomando as providências dentro do regimento. Agora vou ter que reunir os vereadores para ver o rumo que devemos tomar. Eu repudio manifestações desse tipo. Discriminação a gente não pode aceitar — afirma Reni.
Eleição
Menegheti é o mesmo vereador que discursou na tribuna da Câmara de Balneário Pinhal dizendo que seria "o patrão mais ruim" para os seus empregados, caso votassem no então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O fato ocorreu em 3 de outubro de 2022, um dia após o primeiro turno.
Além de vereador, Menegheti também é comerciante no município. Ele foi alvo de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) após a fala. Por fim, acabou firmando acordo com o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4) no qual ficou estabelecido que uma manifestação fosse lida por ele na tribuna da Câmara de Vereadores e distribuída em diferentes meios.