Você compraria um carro usado de Walter Delgatti Netto, o hacker? Provavelmente não, mesmo com a documentação em dia e os pneus originais. Porque ele não inspira confiança e se comporta como alguém que é capaz de tudo por dinheiro ou algum tipo de poder.
Dito isso, é preciso prestar atenção ao que disse Delgatti nesta quinta-feira (17), ao participar da CPI que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, e esperar que apresente alguma prova, sem o que seu depoimento não terá qualquer valor.
Delgatti detalhou uma história que, a ser verdadeira, compromete — mais do que já está — o ex-presidente Jair Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o ex-ministro da Defesa Paulo Sergio Nogueira e uma série de personagens secundários. O que disse na CPI não havia sido dito em depoimento à Polícia Federal e, por isso, o hacker será reconvocado.
Disse Delgatti que foi orientado por Bolsonaro, quando ainda era presidente, a manipular as urnas eletrônicas, assumir a autoria de um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes (com a promessa de anistia futura, dada a certeza de que o grupo se perpetuaria no poder).
Relembrando, o hacker teria sido contratado por Zambelli por ter no currículo a invasão de telefones que lhe deu acesso a conversas entre Sergio Moro e procuradores da Lava-Jato, episódio conhecido como Vaza-Jato.
À CPI, Delgatti contou que a encomenda recebida de Bolsonaro e de sua equipe de campanha, no dia 8 de agosto de 2022, era manipular o código-fonte da urna eletrônica. Da parte técnica Bolsonaro teria dito que não entendia, mas concordava com a ideia de uma versão adulterada do código-fonte das urnas eletrônicas para fazer uma demonstração pública e, assim, desqualificar o sistema eleitoral. A ideia teria sido do marqueteiro de Bolsonaro, Duda Lima.
O hacker não apresentou prova, mas sua narrativa conversa com episódios que entraram para o anedotário do TSE. Embora o código-fonte tivesse sido disponibilizado quase um ano antes para fins de auditoria, no dia 1º de agosto de 2022 o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, enviou ao TSE um ofício classificado de "urgentíssimo", dando prazo até 12 de agosto para o TSE disponibilizar "os códigos-fontes dos sistemas eleitorais, mais especificamente do Sistema de Apuração (SA), do Sistema de Votação (VOTA), do Sistema de Logs de aplicações SA e VOTA e do Sistema de Totalização (SisTot)".
Além de atrasado, o general estava desinformado, mas essa coincidência de datas dá sentido à versão de Delgatti.
Disse o Hacker que esteve cinco vezes no Ministério da Defesa, a pedido de Bolsonaro, para semear dúvidas em relação à segurança do sistema eleitoral. Não há registro de sua entrada pela porta principal do ministério, mas poderia ter sido levado por um ajudante de ordens por uma entrada secundária.