O jornalista Bruno Pancot colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Alheio à pressão política de grupos contrários à reforma tributária, o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS) se empenhou diretamente na construção da proposta que acabou aprovada por ampla margem de votos no plenário da Câmara dos Deputados, na madrugada desta sexta-feira (7). O deputado gaúcho reconhece que o resultado não é a perfeição, mas o texto possível para o momento, e comemora a aprovação.
— A reforma tira uma série de injustiças, bitributação, gente que paga o que não deveria pagar. É importante, transforma o Brasil em país moderno, com imposto absolutamente previsível. Ouvi muitas fake news, mas fiz o que tinha que fazer por absoluta convicção — afirma.
No delicado quebra-cabeça para chegar à redação final, Alceu atuou como interlocutor das demandas do agronegócio e dos interesses dos Estados da Região Sul junto ao relator Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O deputado chegou a conversar por telefone com o governador Eduardo Leite (PSDB), preocupado em eliminar "jabutis" que poderiam manter benefícios fiscais para regiões como o Nordeste.
— Esse é um tema (a reforma) que mexe com todos os setores ao mesmo tempo. Na construção do texto, a cada ponto que se mexe, acaba se deslocando outro. Tinha dias que parecia intransponível, mas aí se fala com outras pessoas e vai se encontrando alternativas. É um exercício, precisa de paciência para conversar — conta o emedebista.
A aprovação da proposta na Câmara não encerra o debate, pois uma série de pontos relacionados à reforma ainda deve sofrer alterações no Senado e retornar para a análise dos deputados. Além disso, há detalhes que serão definidos somente em leis complementares posteriores. O efeito das alterações não é imediato, e prevê mudanças graduais no modelo de tributação pelos próximos 10 anos.
Apoiador de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições passadas, Alceu avalia que o discurso do ex-presidente contra a reforma é "eminentemente político", e diz concordar "100%" com a posição do governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), favorável à proposta.
— Essa reforma deveria ter sido aprovada nos primeiros dois anos do governo Bolsonaro, infelizmente o ministro (Paulo) Guedes não tinha interesse. Eu não sou bolsonarista, tenho divergências com o PT, mas não sou adversário do país. Entendo qual é a argumentação do Bolsonaro, porque ele está fazendo um discurso eminentemente político. E entendo o Tarcísio, que está preocupado em tocar a locomotiva que é São Paulo, e tem um discurso técnico-político. O Bolsonaro fez discurso para a torcida.
Na quinta-feira, Tarcísio foi interrompido por Bolsonaro durante reunião do PL sobre a reforma tributária. Na véspera, Bolsonaro havia pedido a apoiadores para que rejeitassem o texto, dizendo que "votaria contra tudo que viesse do PT".
Apesar de ter o apoio do Planalto, a reforma teve origem no Congresso e foi apresentada em 2019 pelo deputado Baleia Rossi, presidente nacional do MDB.