Você, gestor público, quer acabar com uma escola pública situada em um bairro onde os terrenos estão entre os mais cobiçados pelo mercado imobiliário? É simples: comece restringindo as matrículas. Se fechar as turmas de primeiro ano, por exemplo, no seguinte não haverá alunos do segundo ano.
Ou simplesmente não aceite alunos novos. Em pouco tempo a escola terá tão poucas crianças estudando que qualquer consultor dirá que o melhor negócio é fechar e... vender o terreno.
Por que se fecha uma escola? Por falta de alunos. Dezenas de escolas fecharam as portas no Rio Grande do Sul nos últimos anos, principalmente no Interior, por dois motivos basicamente: a migração e a redução da natalidade.
Não é o caso da Escola Maria Thereza da Silveira, no bairro Mont'Serrat, que vai fechar as portas neste ano, depois de uma série tentativas frustradas pela mobilização dos professores, da direção e da comunidade. José Ivo Sartori começou a matar a escola. Caberá a Eduardo Leite assentar a última pedra da sepultura.
Em 2017, a área foi avaliada em R$ 12 milhões. Era do Instituto de Previdência do Estado (IPE), mas na reestruturação do instituto passou para o patrimônio do Estado.
Pais e professores foram chamados para uma reunião na próxima segunda-feira (31), quando serão comunicados pela 1ª Coordenadoria Regional de Educação de que, em breve, a Maria Thereza será apenas uma lembrança afetuosa.
Construída no governo de Leonel Brizola, a sexagenária escola é a última das chamadas "brizoletas" em Porto Alegre. Até por isso, encontrou no vereador Pedro Ruas, do PSOL, um defensor incansável. A cada tentativa de fechamento da escola nos últimos anos, Ruas se insurgiu.
Desta vez, foi a ele que os professores e a antiga diretora, Maria Emília Provenzano, hoje aposentada, recorreram. Ruas procurou a coluna porque sabe que neste espaço educação é prioridade. E esteve na escola para se inteirar da situação. Constatou que, assim como em 2017, o prédio está bem conservado e poderia ser um modelo de escola em matéria de estrutura física.
A Secretaria da Educação confirma o fechamento e informa que está realizando o planejamento da rede escolar, que visa à reorganização das matrículas. Graças à política de restrição, hoje restam apenas 25 alunos matriculados. Desses, 19 estão frequentando a escola de forma regular, em três turmas do Ensino Fundamental: cinco alunos no 7º ano, seis no 8º ano, e 14 alunos no 9º ano, em funcionamento no turno da manhã.
"O encerramento das atividades nesta escola se justifica pela diminuição de matrículas ao longo dos anos, o que provocou a redução da oferta de turmas nos anos iniciais. Além disso, existem outras três escolas no entorno que atendem o ensino fundamental: EEEF Imperatriz Leopoldina (850m), EEEF Fabíola Pinto Dornelles (1,4 km) e EEEF Visconde de Pelotas (1,5 km)", diz a nota da Seduc.
Os funcionários dizem que desde 2017 aparecem na escola pais implorando para matricular seus filhos, mas são impedidos por decisão do governo.
ALIÁS
Seria o caso de rever a decisão de fechar a escola Maria Thereza da Silveira, dado que ao lado está sendo construído um shopping center, e os filhos dos empregados do comércio e dos escritórios poderiam estudar junto ao trabalho dos pais.