De todos os caciques do MDB, nenhum era mais próximo do ex-ministro Eliseu Padilha do que o ex-presidente Michel Temer. Sempre que vinha a Porto Alegre, Temer fazia questão de visitar Padilha, celebrando uma amizade de três décadas. Ao ser informado da morte do amigo, confirmou que viria para o velório e emitiu nota lamentando a perda. Assim foi: Temer chegou ao Palácio Piratini e solidarizou-se com a viúva, Simone, os filhos do amigo e os companheiros de partido.
O ex-ministro Carlos Marun, outro amigo dileto de Padilha, estava entre os mais consternados. Marun acompanhou Padilha na saúde e na doença: esteve ao lado do amigo nos momentos mais difíceis, tentando com seu bom humor afastar o fantasma da depressão, um dos problemas de saúde do ex-chefe da Casa Civil de Temer.
Com a morte de Padilha, desfez-se, para sempre, um grupo que por anos e anos deu as cartas no MDB em encontros regados a Cabernet Sauvignon e uísque 12 anos. Esse grupo incluía Moreira Franco (RJ), Romero Jucá (RR), Henrique Eduardo Alves (RN), Geddel Vieira Lima (BA) e Eduardo Cunha (RJ). Com o fim do governo Temer e a prisão de alguns deles na Operação Lava-Jato, a confraria tinha sido desfeita.
Padilha, o único que não teve a prisão decretada, recolheu-se a Porto Alegre e passou os últimos quatro anos envolvido com o tratamento de saúde, mas sempre em contato com Temer, Marun e os líderes do partido que o visitavam em sua residência. Na campanha de 2022, Padilha foi a Esteio receber a então candidata do MDB a presidente, Simone Tebet.
Após o velório do ex-ministro, Temer foi questionado pelo repórter Bruno Pancot sobre a participação do MDB no governo do presidente Lula. Respondeu de forma quase protocolar:
— O MDB sempre teve uma presença muito forte nos grandes momentos da vida nacional. As grandes conquistas sempre tiveram congressualmente o apoio do MDB. E neste momento o MDB tem pregado, como eu prego sempre, a pacificação do país. Nós temos temas fundamentais. Um dos temas fundamentais é a questão do meio ambiente, que ultrapassa os limites territoriais do Brasil. A presença do MDB no governo só pode ajudar o governo.
Temer disse que não conversou com Lula nos últimos meses, porque está “um pouco fora da política”, e não espera uma ligação do presidente:
— Não, não espero não. Quero dizer, estou inteiramente às ordens. Mas não fico esperando ligação de ninguém.