Familiares, amigos, correligionários do MDB e autoridades do Estado e do país participam do velório do ex-ministro Eliseu Padilha, que ocorre nesta quarta-feira (15), no Palácio Piratini, em Porto Alegre. O ato fúnebre teve início às 10h e é aberto ao público.
O ex-presidente Michel Temer, de quem Padilha foi ministro-chefe da Casa Civil, de 2016 a 2018, chegou ao velório por volta das 10h40min. Acompanhado de ex-ministros e secretários do governo do Estado, Temer permaneceu no local por cerca de 20 minutos.
Na saída, o ex-presidente conversou com os jornalistas e disse que o legado de Padilha é a "preocupação com o país".
— Perde o Rio Grande do Sul, naturalmente perde o Brasil e perde a ideia da tranquilidade, da serenidade, da competência. E eu, pessoalmente, confesso que perco um grande amigo, estivemos juntos por mais de 30 anos. Eu lamento ter que vir neste momento, mas há pouco eu ouvi alguém dizer o seguinte: olha aqui, não se emocionem demais, porque o que foi embora foi apenas o corpo, porque a alma do Padilha tá aí. E a alma do Padilha vai nos iluminar sempre com o seu exemplo — disse.
Questionado sobre o processo de impeachment, em que Padilha teve reconhecido papel de articulação na contagem de votos que levou ao afastamento da então presidente Dilma Rousseff, Temer minimizou a participação do ex-ministro.
— Ele não precisou contar votos, porque os votos vieram com toda a espontaneidade. O que o Padilha fazia era o que todos nós fizemos, cumprir o texto constitucional. O Padilha, que era hábil em contar votos, quando errava a votação era por um, dois votos, mas neste caso ele não precisou contar nenhum voto, não teve nenhuma participação que levasse àquele episódio.
Pupilo do ex-ministro, com quem trabalhou desde os 19 anos e sempre manteve relação próxima, o vice-governador Gabriel Souza ressaltou a característica de Padilha como formador de novos líderes políticos. Gabriel afirma ter sido um deles, "mas não o único".
— Reconheço que o incentivo dele foi fundamental para eu exercer a minha atividade política. O Padilha era tipicamente um político de centro, sempre conseguia conversar com quem pensava diferente. Um político moderado, porém firme nas suas opiniões. Através dessa moderação e capacidade de diálogo é que ele conseguia articular, que nada mais é do que saber ouvir, conversar, entender — afirmou.
O governador Eduardo Leite chegou ao velório um pouco mais tarde, por volta do meio-dia, e destacou a importância de Padilha para que se consolidasse a aliança entre o PSDB e o MDB na eleição de 2022.
— Ele foi um entusiasta, entendia a importância da nossa candidatura. Eu sou muito grato pelo envolvimento que ele teve para construir uma aliança que não era fácil de ser construída, mas que foi exitosa no processo eleitoral — observou o tucano.
O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, também ressaltou a capacidade política do ex-ministro e lembrou de um episódio em que divergiu do aliado. Em 2015, como ministro da Aviação Civil, Padilha defendia a ideia de construir um novo aeroporto internacional entre Portão e Nova Santa Rita, que se chamaria 20 de Setembro. O aeródromo seria uma alternativa à ampliação da pista do Salgado Filho, que enfrentava dificuldades na época.
— Quando ele percebeu que tinham prefeitos, vice-prefeitos e vereadores que entendiam que aquele não era o caminho que a Região Metropolitana queria, prontamente mudou de ideia. Esse era o Padilha — narrou Melo, que era vice-prefeito de José Fortunati na época.
Também passaram pelo Piratini os ex-ministros Moreira Franco, Antônio Imbassahy e Carlos Marun, que foram colegas de Padilha durante o governo Temer, além do presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, e do governador do Pará, Helder Barbalho. Os ex-governadores gaúchos Pedro Simon, Germano Rigotto, José Ivo Sartori e Ranolfo Vieira Junior também compareceram.
Durante a tarde, houve uma breve cerimônia de despedida com salva de palmas para o ex-ministro. O velório terminou por volta das 17h. Em seguida, o corpo será levado ao Angelus Memorial e Crematório para uma cerimônia restrita aos familiares.
Eliseu Padilha
Conhecido pela singular capacidade de articulação política, Padilha foi ministro dos governos Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Michel Temer. Também exerceu o cargo de deputado federal e foi prefeito de Tramandaí.
Padilha lutava contra os problemas de saúde há alguns anos. Ao final do governo Temer, em 2018, enfrentou uma série de complicações. Em janeiro de 2019, fez um autotransplante de medula no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, para erradicar um mieloma múltiplo. Em julho do mesmo ano, sofreu hemorragia cerebral superficial, ficando internado no Hospital Moinhos de Vento, na capital gaúcha.
A doença fez Padilha submergir, evitando aparições públicas e declarações sobre o cenário político. Voltou a ter atuação partidária frequente em 2022, quando se empenhou pela candidatura do vice-governador Gabriel Souza e passou a despachar na sede do MDB.
Em janeiro, o ex-ministro esteve na posse do governador Eduardo Leite. Também presenciou a posse do atual presidente da Assembleia, Vilmar Zanchin, em 31 de janeiro.
Semanas depois, o quadro de saúde se agravou e Padilha soube que o câncer estava em fase de metástase. Chegou a ser internado para sessões de quimioterapia, mas as sessões na surtiram o efeito esperado. Padilha morreu na última segunda-feira, aos 77 anos.