O jornalista Carlos Rollsing colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
O secretário estadual de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Mateus Wesp (PSDB), publicou nesta terça-feira (17) um vídeo em redes sociais em que faz um mea-culpa por posições adotadas no passado que contradizem os princípios da atual função.
Entre 2017 e 2021, como vereador em Passo Fundo e deputado estadual na Assembleia, Wesp apresentou projetos de lei para banir a utilização da palavra “gênero” em escolas. Ele também criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que criminalizou a homofobia, o que ele classificou como “tirania pura”.
São posicionamentos alinhados ao conservadorismo bolsonarista, de um passado nem tão distante que colocaram Wesp no lado oposto da comunidade LGBT+, que ele terá de atender como secretário.
O contexto levou Wesp a receber críticas da oposição e até de aliados do Palácio Piratini, que passaram a sinalizar nos bastidores que dispõem de quadros adequados para liderar a pasta. Entidades com atuação em defesa da diversidade enviaram manifestações ao governador Eduardo Leite contestando a indicação de Wesp.
Isso levou o tucano a se sentir pressionado a ponto de questionar pessoas do PSDB e da coordenadoria de diversidade sexual da secretaria sobre o que deveria fazer para contornar a situação. Foi aconselhado a se posicionar publicamente. No vídeo, o político reconhece as reações por causa da sua indicação, mas cita o processo civilizatório de evolução constante. Ele diz que é importante fazer a autocrítica, reavaliar posições e mudar. E assegurou estar preparado para fazer amplo trabalho de defesa dos direitos humanos, sem entrar especificamente nos posicionamentos do passado.
– As provas da minha postura vamos dar com nossas ações, que terão reconhecimento e defesa de toda a diversidade humana nas políticas públicas que vamos realizar – afirmou.
Lideranças com trânsito entre o tucanato descartam qualquer possibilidade de Wesp ser demitido. A avaliação é de que ele é um quadro de grande estima no PSDB pela lealdade demonstrada a Leite no primeiro mandato, quando chegou a ser líder do governo e relator do orçamento.
Há quem diga que a defesa do governo tucano afastou Wesp do seu eleitor de Passo Fundo, o que custou a perda do mandato na última eleição. Por esses fatores, somados à leitura de que revisou posições do passado, ele deverá receber suporte do Palácio Piratini, ganhar tempo para trabalhar e apresentar resultados.
ALIÁS
O trabalho da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos é relevante para outras porções da sociedade que sofrem violência e descaso, como negros, mulheres, crianças e pessoas em situação de rua. Com o crescimento do radicalismo, da pobreza e das violências de gênero e racial, é uma pasta que conquista cada vez mais relevância.