Uma semana depois de terem se tornado públicas as patacoadas do ministro João Augusto Ribeiro Nardes, é inacreditável que o Tribunal de Contas da União (TCU), como instituição, siga fingindo que não ocorreu um fato gravíssimo envolvendo um dos seus membros. Nardes recorreu ao instrumento dos covardes para fugir de dar explicações públicas sobre seu comportamento de vivandeira em um grupo de WhatsApp: apresentou um atestado médico. Não há um CID específico para enquadrar um ministro que encolhe a ponto de espalhar boatos sobre uma suposta ação militar golpista e, flagrado, finge demência.
O uso da expressão “vivandeira” não foi escolhido ao acaso num dicionário de termos golpistas. A palavra foi usada em 1964 pelo marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, reclamando dos civis que chamavam seu governo de militarista. Disse Castelo Branco naquela frase antológica: “Eu os identifico a todos. E são muitos deles, os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar".
Que vivandeiras anônimas alvoroçadas não aceitem o resultado da eleição e sigam pregando uma virada de mesa já é espantoso em um país democrático. Mas que essa quartelada saia da cabeça de um ministro é preocupante para o próprio TCU, que fechou-se em copas desde o episódio. Ficou faltando uma palavra do seu presidente ou uma nota clara dizendo que o tribunal não avaliza as teorias conspiratórias de Nardes.
Septuagenário e a cinco anos da aposentadoria compulsória, Nardes deveria saber que grupos de WhatsApp (ou Telegram) são os novos tambores da aldeia. O que ali se diz ou se escreve deve ser dito ou escrito com a segurança de que o conteúdo pode ir parar no Jornal Nacional sem que o seu autor passe vergonha.
Nardes ainda tem tempo para se retratar. Assim que terminar a licença médica (sic) pode pedir desculpas ao país. Dizer que seu inconformismo com o resultado da eleição de 30 de outubro turvou-lhe a razão. Em nota, antes de sair de cena, o ministro divulgou nota dizendo que lamenta "profundamente" a interpretação conferida ao áudio, que teria sido gravado "apressadamente" e dirigido a um grupo de amigos. "Para que não pairem dúvidas, esclarece que repudia peremptoriamente manifestações de natureza antidemocrática e golpistas, e reitera sua defesa da legalidade e das instituições", escreveu no comunicado.
Faltou dizer que , com exceção dos mandatos de vereador pela Arena, todas as oportunidades que teve na vida pública lhe foram dadas pela democracia. E que reconhece a Constituição de 1988 (ele foi constituinte estadual) como a Bíblia a ser seguida por todos os brasileiros, especialmente por aqueles que têm a prerrogativa de julgar contas alheias.
Aliás
A licença médica solicitada por Augusto Nardes valia durante a semana passada, mas foi prorrogada por mais cinco dias nesta segunda-feira (28).