O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Em áudio vazado no qual faz comentários sobre a situação política do Brasil, o ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), afirma que há um "movimento muito forte nas casernas" e prevê um "desenlace bastante forte" no país nos próximos dias. Procurado pela coluna, Nardes disse que a manifestação foi feita "para um pequeno grupo", mas não quis responder sobre o teor da gravação.
— Está acontecendo um movimento muito forte nas casernas. Acho que é questão de horas, dias, no máximo uma semana ou duas, talvez menos que isso, que vai acontecer um desenlace bastante forte na nação. Imprevisíveis, imprevisíveis... —diz o ministro no áudio, que começou a circular neste final de semana.
Na fala de aproximadamente oito minutos, Nardes se refere a um interlocutor como "Sartori", ligado ao agronegócio, e faz referência à manifestação de um caminhoneiro de Sinop (MT). Não é possível confirmar quando a mensagem foi enviada.
— A fala desse cidadão (caminhoneiro) é para despertar o produtor rural também, porque não adianta só o caminhoneiro trabalhar. Vamos perder? Sim, vamos perder alguma coisa, mas a situação para o futuro da nação poderá se desencadear de forma positiva, apesar desse principal conflito que deveremos ter nos próximos dias ou nas próximas horas — continua Nardes.
O ministro do TCU diz ainda que conversou longamente com o "time do Bolsonaro" durante a semana e relata que o presidente está debilitado por um ferimento na perna, causado por uma doença de pele.
— Mas tem esperança ainda de poder se recuperar e melhorar sua situação física e certamente terá condições de enfrentar o que vai acontecer no país. Se vai haver alguma mudança em relação a isso, só que haja uma capitulação por parte de alguns integrantes importantes, dirigentes... que tudo se sente que vai para um conflito social na nação brasileira.
Na sequência, Nardes lembrou que, em 2015, foi o relator do processo que reprovou as contas do ano anterior do governo Dilma Rousseff em razão das pedaladas fiscais, motivo utilizado para justificar o impeachment da então presidente. O magistrado diz que é necessário "acordar o Brasil" e "ter fé e crença" como naquele episódio.
— Imagina eles com mais quatro anos de governo o que vai acontecer na nação... não sei, vai depender de a sociedade se reerguer, retomar a sua força, saber da sua força. A sociedade sabe da sua força, mas não tinha despertado. Hoje estamos despertos. Esperamos poder avaliar melhor a nação. Como magistrado, procuro olhar a árvore e a floresta. A floresta, se não forem tomadas medidas bastante fortes, está indo para um processo de ser incendiada aos poucos.
Procurado na tarde deste domingo, Augusto Nardes recusou-se a responder sobre o conteúdo alegando não conhecer o jornalista que o contatou.
— Eu não tenho nada identificado aqui, só um número solto. Não posso me manifestar com alguém que não sei quem é — disse o ministro, solicitando que as perguntas fossem encaminhadas por escrito, via Tribunal de Contas, na segunda-feira.
Logo depois, porém, Nardes afirmou que expressou seu pensamento "em um pequeno grupo", mas disse que não responderia perguntas sobre o teor do áudio por telefone.
— Aquilo eu expressei em um pequeno grupo, inclusive foi apagado. Não estamos vivendo em uma ditadura em que as pessoas não podem se manifestar, fazer análises, enfim — disse Nardes, antes de desligar o telefone.
A coluna encaminhou perguntas ao ministro por meio da assessoria de imprensa do Tribunal de Contas da União e aguarda o retorno.
Durante a tarde, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) anunciou que vai protocolar um pedido de convocação de Nardes para que ele explique o teor do áudio que, para o parlamentar, o envolve em "conspiração golpista".
Ex-deputado estadual e federal pelo PP do Rio Grande do Sul, Augusto Nardes foi indicado ao Tribunal de Contas em 2005 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.