O formato do debate entre os candidatos a presidente no segundo turno favoreceu o confronto entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Foi tenso do início ao fim, como se podia esperar pelo que os dois demonstraram no primeiro turno. As quase duas horas foram marcadas por ataques de parte a parte, com Lula e Bolsonaro se chamando de mentirosos e tentando convencer o público de que o adversário não merece uma nova chance.
Como em dois blocos os candidatos tinham 15 minutos para administrar como bem quisessem — havia apenas o sorteio de quem começaria —, Lula e Bolsonaro escolheram os temas que queriam abordar. E escolheram pensando um nas fragilidades do outro.
No primeiro, os dois terminaram mais ou menos na mesma hora, mantendo o pingue-pongue ao longo da meia hora. No segundo bloco desse modelo, Lula cometeu um erro primário, inexplicável para um veterano que está na sua sexta disputa presidencial: gastou seu tempo antes do adversário e deixou Bolsonaro falando sozinho por seis minutos sem poder se defender.
Foi nesse monólogo que Bolsonaro fez os ataques mais contundentes, falando de corrupção, tema com o qual conseguira desestabilizar o ex-presidente, e insistindo em explorar suas relações com ditadores como Daniel Ortega, o presidente da Nicarágua, e Nicolás Maduro, da Venezuela. Lula já havia se atrapalhando ao ser questionado sobre as relações com Ortega, que tirou o ditador Anastásio Somoza do poder e não saiu mais do governo, aniquilando adversários.
Lula cobrou de Bolsonaro por seu comportamento durante a pandemia, pela fome e pela falta de investimentos na educação. O presidente gabou-se de ter levado água para o Nordeste, com a transposição do Rio São Francisco. Lula chamou o adversário de cara de pau e disse que a obra era do governo dele. De fato, Lula iniciou a transposição. Entregou o governo para Dilma Rousseff com 88% da obra concluída. Quando Bolsonaro assumiu, ainda faltavam 3,5%. Ele concluiu, inaugurou e na campanha tenta ficar com todos os créditos.
Questionados sobre a relação entre poderes e a proposta de aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal, proposta com a qual Bolsonaro vem flertando, Lula disse que não vê sentido em fazer essa alteração. Insistiu que os ministros devem ser escolhidos por competência e não pela proximidade com o presidente que, “talvez numa Constituinte”, se possa discutir duração de mandato dos ministros. Bolsonaro se comprometeu a não propor o aumento, mas disse que a única proposta que tramita no Congresso prevendo alteração da composição do Supremo é de autoria da deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) “com a assinatura de deputados do PT”.
Nas considerações finais, Bolsonaro pregou para convertidos, falando de ideologia de gênero, uso do mesmo banheiro por meninos e meninas (um dos temas mais frequentes das fake news eleitorais), aborto (mesmo que qualquer mudança na lei só possa ser feita pelo Congresso), religião e armamento da população. Lula gastou seus minutos derradeiros para atacar Bolsonaro, a quem chamou de “ditadorzinho” e de “capa de pau”. Disse que quem aprovou a lei da liberdade religiosa foi ele e que quer voltar a governar o país para implantar um programa robusto de combate à fome.