É difícil entender a estratégia do senador Flavio Bolsonaro ao entrar com recursos contra uma decisão da Justiça Federal de Brasília para censurar reportagem sobre as compras de imóveis da família, parte deles com pagamento em dinheiro vivo. A uma semana da eleição, é um gol contra a campanha do próprio pai, o presidente Jair Bolsonaro, da qual é coordenador.
A reportagem foi publicada há vários dias e toda a família teve oportunidade de se explicar e de contestar as informações levantadas pelos repórteres Juliana Dal Piva e Thiago Herdy. Alguns responderam com evasivas, outros membros da família optaram por silenciar.
O presidente primeiro disse que não há nada de errado em comprar imóveis com dinheiro vivo, depois usou uma declaração dos cartórios de que pagamento em moeda corrente nacional queria dizer que era em reais, no caso.
O UOL voltou a recontar o caso para explicar que nos documentos dos imóveis há casos em que se especifica que uma parte foi paga em “moeda corrente, contada e achada certa”, outra em cheque ou financiamento. Por que, então a diferença?
A imprensa já nem vinha falando do assunto, porque outras pautas se sobrepuseram. Eis que, às vésperas da eleição, no julgamento do recurso de Flavio, o desembargador Demétrius Gomes Cavalcanti, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, passou por cima da Constituição e atendeu ao pedido do senador, filho mais velho do presidente da República. E o assunto que só estava sendo tratado na campanha do ex-presidente Lula, ressurgiu com força, na imprensa e nas redes sociais.
Ao longo de toda a sexta-feira (23), Flavio Bolsonaro foi um dos assuntos mais falados do Twitter. As fotos da mansão que comprou em Brasília com uma entrada e o restante pago com financiamento camarada do Banco Regional de Brasília foi uma das fotos mais vistas do dia.
A censura imposta ao UOL — derrubada no fim do dia por determinação do ministro André Mendonça, do STF — não impediu que a notícia reproduzida por outros veículos e difundida amplamente nas redes sociais ganhasse pernas e corresse o mundo. Se há alguma inteligência na ação do filho Zero Um, os aliados do pai não conseguiram identificar, porque a ação só serviu para desagregar ainda mais uma campanha que padece com os últimos resultados das pesquisas.
Flavio faria melhor se explicasse as movimentações de dinheiro vivo que fez não apenas na compra de imóveis, mas no pagamento de despesas pessoais, incluindo impostos, no total de R$ 3 milhões, usando sua loja de chocolates como pretexto para depósitos em espécie.