No primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o goiano Henrique Meirelles surpreendeu o mercado financeiro ao aceitar o convite para ser presidente do Banco Central. Recém-eleito deputado federal pelo MDB, depois de ter chegado ao topo da hierarquia no BankBoston, Meirelles renunciou ao mandato para integrar o governo Lula. Ganhou status de ministro e funcionou como uma espécie de seguro contra aventuras na política monetária.
Nesta segunda-feira (19), Meirelles juntou-se a outros sete ex-candidatos a presidente e que apoiam Lula e tirou uma foto que deverá ser usada na campanha como sinal de capacidade de aglutinação do candidato. O principal personagem na foto não é nem Meirelles, que concorreu a presidente em 2018 pelo PSDB, mas Geraldo Alckmin, que foi candidato pelo PSDB e está com Lula desde antes das convenções. Os dois têm papel semelhante: abrandar as restrições a Lula na classe média, no setor empresarial e no mercado financeiro.
Na foto, aparecem, da esquerda para a direita: Guilherme Boulos (PSOL), Luciana Genro (PSOL), Cristovam Buarque (ex-PDT), Marina Silva (Rede), Alckmin (PSB), Lula, Fernando Haddad (PT), Meirelles e João Vicente Goulart (ex-PPL). Luciana, Marina e Cristovam já foram filiados ao PT e saíram por divergências internas. A ex-presidente Dilma Rousseff não aparece na foto, mas está comprometida com a candidatura de Lula e atuando fortemente na campanha eleitoral.
O discurso mais enfático foi o de Cristovam, ministro da Educação de Lula, demitido em janeiro de 2004, logo depois de completar um ano no cargo. À época, Cristovam se mostrou magoado pela forma como foi demitido, por telefone, quando estava em férias em Portugal. Em seu lugar assumiu o gaúcho Tarso Genro. Lula avaliou que Cristovam era um bom formulador, mas um mau gestor, porque demorava a apresentar resultados. Disse Cristovam:
— Estou aqui, em primeiro lugar, porque o Lula é o melhor que nós temos hoje para presidir o Brasil. Nós precisamos barrar o risco, a tragédia, o assombro da reeleição do atual presidente da República. E Lula, além de ser o melhor dos candidatos, é quem tem mais condições de barrar essa tragédia brasileira. Será uma tragédia termos o segundo turno. Eu não tenho dúvida de que Lula ganhará no segundo turno, se houver segundo turno. Mas serão quatro semanas imprevisíveis do ponto de vista de violência nas ruas, do ponto de vista de "fake news" para todos os lados.
A deputada Luciana Genro disse que o grupo compõe uma frente antifascista:
— O projeto representado pelo Bolsonaro, embora não tenha conseguido ser implementado, é um projeto fascista. É um projeto racista, misógino, LGBT-fóbico, um projeto discriminatório e violento.
Quem está com quem
Se o presidente Jair Bolsonaro quiser uma foto semelhante à de seu concorrente com políticos que já foram presidentes ou candidatos, terá asseguradas as presenças de Fernando Collor, presidente eleito em 1989, pelo PRN e hoje senador por Alagoas, Esperidião Amin, que concorreu a presidente pelo PP, o Pastor Everaldo e, talvez, Anthony Garotinho. O ex-governador do Rio não se posicionou, mas suas filha Clarissa, deputada federal, faz campanha para Bolsonaro.
Aécio Neves (PSDB) não abriu o voto e expressa posições dúbias, mas entre Lula e Bolsonaro, ficaria com o atual presidente.
Guilherme Afif Domingos, que concorreu a presidente em 1989 com o número que hoje é de Bolsonaro, o 22, foi ministro de Dilma Rousseff (PT) e assessor especial do ministro Paulo Guedes. Hoje coordena a campanha de Tarcísio Gomes de Freitas ao governo de São Paulo.
Ciro Gomes tem dois ex-candidatos a presidente entre seus apoiadores: a ex-senadora Heloísa Helena e o Cabo Daciolo.
Simone Tebet não conta com Meirelles, que concorreu a presidente pelo MDB, mas tem José Serra (PSDB) apoiando sua candidatura.