Um dia depois da convenção que partiu o MDB ao meio, o deputado Gabriel Souza, vice de Eduardo Leite (PSDB) disse que vai esperar alguns dias, até a poeira baixar, para procurar um a um os líderes do partido contrários à coligação. Ainda processando as reações iradas do grupo que perdeu a convenção por 27 votos, Gabriel diz que entende o sentimento de luta, mas acredita que o MDB, por ter no nome o “D” de democrático, vai aceitar o resultado.
— Vou esperar a situação decantar para conversar com companheiros e tentar a convergência. Sempre tivemos uma convivência respeitosa — diz o deputado.
A conversa mais difícil será com o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo. Nesta segunda-feira (1º), depois de participar do programa Gaúcha Atualidade, no Mercado Público, Melo avisou:
— Isso não terminou. Não vai ficar assim.
Questionado se iria tentar reverter o resultado da convenção, o prefeito disse que não, até porque não há mais prazo:
— O que quero dizer é que o Gabriel terá de fazer um mea culpa. Sempre disse que não tinha nada de errado em ser vice, mas era preciso assumir. Ele não foi transparente. Dizia que era candidato a governador, mas trabalhava para ser vice de Leite, com quem eu tenho sérias divergências, a começar pela forma como administrou o Estado na pandemia, fechando empresas.
No auge da pandemia, quando o governo do Estado propunha medidas mais drásticas para evitar a disseminação do vírus, Melo era contra. O prefeito também contrariou a Secretaria da Saúde ao anunciar a compra do chamado “kit covid”, com medicamentos de eficácia não comprovada, defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro. À época, justificou que defendia o direito de os médicos prescreverem remédios como a cloroquina e que a prefeitura iria colocar à disposição dos pacientes, o que acabou não ocorrendo porque a Justiça impediu.
Placar apertado em 1994 e folgado em 2002
Nas duas vezes em que o PSDB indicou o candidato a vice do MDB, em 1994 e 2002, o resultado da convenção foi radicalmente diferente. Em 1994, o PSDB aprovou por apenas um voto a aliança com o MDB, tendo Vicente Bogo como candidato a vice de Antônio Britto, que acabou vencendo a eleição.
Britto, que ficara conhecido como porta-voz do falecido presidente Tancredo Neves, em 1985, tinha sido eleito deputado federal em 1990 e era favorito para ganhar a eleição. Do PSDB dizia-se que “cabia numa kombi”, mas era o partido de Fernando Henrique Cardoso, eleito presidente no mesmo ano, na carona do Plano Real.
Já em 2002, com Germano Rigotto candidato a governador, a vaga de vice parecia a legítima “canoa furada” para o PSDB. Mesmo assim, o partido indicou Antônio Hohlfeldt por um placar avassalador: 227 votos favoráveis e 26 contrários. Rigotto saiu com 2% na primeira pesquisa depois da indicação, ultrapassou Britto (que concorria pelo PPS), disputou o segundo turno com Tarso Genro (PT) e venceu a eleição. Hohlfeldt foi um vice fiel e dedicado. Hoje está no MDB e comanda a Fundação Theatro São Pedro desde a morte de Eva Sopher, durante o governo de José Ivo Sartori.