O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Faltando cerca de quatro meses para o dia em que os gaúchos irão às urnas escolher o novo governador, o cenário da corrida ao Palácio Piratini ainda está envolto em interrogações. A profusão de candidaturas nos diferentes campos ideológicos e o histórico de surpresas em pleitos anteriores alimentam incertezas e provocam temor de eventual divisão de votos na direita, no centro e na esquerda.
Até agora, 12 pré-candidatos já foram anunciados pelos partidos políticos, mas as atenções estão voltadas para um nome que não está na lista. Após tentar emplacar uma candidatura presidencial, o ex-governador Eduardo Leite dá sinais de que pretende concorrer à reeleição, quebrando a promessa feita na eleição anterior e sustentada durante os três anos e três meses de mandato.
Além de escantear o atual pré-candidato do PSDB (ninguém menos que o governador Ranolfo Vieira Júnior), Leite entraria na disputa como um dos favoritos a chegar ao segundo turno, de acordo com os números de pesquisas contratadas por partidos políticos. Para consolidar a vantagem de Leite, os tucanos tentam atrair o MDB, o que implodiria a pré-candidatura do deputado Gabriel Souza.
Vinculado à aliança nacional em torno da presidenciável Simone Tebet (MDB), o acordo esbarra na resistência de líderes do MDB em apoiar Leite e na tradição do partido, que jamais deixou de lançar candidato a governador. Mantendo Gabriel no páreo, o MDB disputaria com Leite os eleitores simpáticos à agenda reformista implementada nas gestões do tucano e de José Ivo Sartori.
Na ponta direita, ao menos dois candidatos batalham pela parcela do eleitorado simpática ao presidente Jair Bolsonaro: o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) e o senador Luis Carlos Heinze (PP). Ainda que Onyx apareça à frente em pesquisas, Heinze acredita na força do PP, que tem diretórios em praticamente todas as cidades do Estado. O pré-candidato Roberto Argenta (PSC) é outro que apoiará Bolsonaro, mas não pretende "nacionalizar" a campanha.
No campo da esquerda, o apelo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por uma candidatura única dos partidos que o apoiam produziu apenas efeito parcial. Os pré-candidatos Edegar Pretto (PT) e Pedro Ruas (PSOL) indicaram que vão conversar novamente sobre uma composição. Todavia, Beto Albuquerque (PSB) rejeita abrir mão da candidatura e tem mantido conversas com Vieira da Cunha (PDT). O socialista topa apoiar o presidenciável Ciro Gomes em troca do suporte dos pedetistas.
Os outros pré-candidatos anunciados são Marco Della Nina (Patriota), Ricardo Jobim (Novo) e Rejane de Oliveira (PSTU).
Olho no futuro
Para o cientista político Carlos Eduardo Borenstein, analista da Arko Advice, caso Eduardo Leite entre na disputa, há chances consideráveis de que ocupe uma das vagas no segundo turno.
— Se considerarmos que o domínio do PSDB em São Paulo está em risco, a manutenção do governo do Rio Grande do Sul se torna estratégica para o partido —pontua.
Borenstein ressalta que, diante da força do presidente Jair Bolsonaro, uma das novidades desta eleição será uma candidatura de direita conservadora com potencial de vitória, que, conforme pesquisas, seria a de Onyx Lorenzoni.
O cientista político avalia que, fragmentada em quatro candidaturas, a esquerda pode "repetir o erro de 2018", quando os candidatos de PT, PDT e PSOL somaram quase um terço dos votos, mas não se classificaram para a rodada final.
— Se houver uma configuração com o Eduardo Leite disputando a reeleição e o ex-ministro Onyx empurrado pelo bolsonarismo, poderemos ter uma repetição do quadro de 2018, com a esquerda fora do segundo turno — projeta.