Confirmou-se no leilão de concessão de 271,5 quilômetros de rodovias da Serra e do Vale do Caí o temor expresso pelo então governador Eduardo Leite durante a viagem aos Estados Unidos, em março: o baixo interesse dos investidores, que resultou em uma oferta com deságio mínimo. Como apenas um consórcio se apresentou, o Integrasul, arrematou o lote oferecendo uma redução de apenas 1,3% na tarifa de referência do pedágio, entre R$ 6,84 e R$ 9,82. Só não foi pior porque a licitação poderia ter dado deserta.
Ainda que esses valores sejam razoáveis em comparação com os cobrados na BR-116 Sul apenas para conservação, soam como um soco no bolso dos usuários que esperavam alguma coisa mais próxima do valor cobrado na RS-287 (estadual) ou nas praças das BRs 101, 290 e 386 (concessão federal). É fato que há obras pesadas nas rodovias do bloco 3, que o concessionário terá de executar nos primeiros anos, mas a tarifa já começa superior à da BR-386, por exemplo, que está sendo duplicada no trecho Lajeado – Marques de Souza.
O temor de Leite, confirmado no leilão, era de que a tempestade perfeita formada pela inflação elevada, a guerra na Ucrânia, a alta do petróleo, com reflexos em diferentes insumos usados na construção e manutenção de estradas afugentassem os concorrentes. A esses fatores é necessário acrescentar um que Leite não citou: o clima de instabilidade política no ano eleitoral.
Nenhum consórcio internacional se habilitou à concessão do bloco 3, que inclui a duplicação da RS-122, uma rodovia essencial para a economia da produtiva região serrana, que sucessivos governos prometeram fazer com recursos próprios e não fizeram. Caxias do Sul e região terão, finalmente, uma rodovia duplicada para ir da Serra ao porto de Rio Grande, mas o custo será elevado. Convém lembrar que além dos pedágios já existentes no trecho Camaquã-Rio Grande, o governo federal pretende conceder a iniciativa privada o segmento Porto Alegre-Camaquã, no mesmo pacote em que será incluída a BR-290 (Eldorado do Sul-Pantano Grande), com edital previsto para o final do ano.
O resultado desanimador do leilão do bloco 3 poderá levar o governador Ranolfo Vieira Júnior a segurar a concessão dos outros dois, até que a conjuntura internacional melhore. O problema é que não há sinais de que a crise internacional venha a ser superada no curto prazo e o governo atual termina em oito meses e meio.
ALIÁS
No leilão da RS-287, o resultado foi muito acima do esperado porque o grupo espanhol Sacyr tinha interesse em entrar no Brasil e identificou a concessão do Rio Grande do Sul como estratégica para esse propósito.