
Em 2016, o então prefeito de Canoas, Jairo Jorge, esteve ameaçado de afastamento por suspeita de envolvimento em irregularidades na gestão municipal e na campanha de sua vice, Beth Colombo, que concorria a prefeita. A descoberta de R$ 500 mil de origem não explicada acabou prejudicando a eleição de Beth (que anos depois acabaria inocentada), mas deixou os promotores desconfiados de que o tesoureiro Guilherme Ortiz, flagrado com o dinheiro, não agia sozinho.
O então prefeito acabou excluído da investigação de crime eleitoral, mas as suspeitas de irregularidades na área da saúde seguiram sendo investigadas. Jairo Jorge concluiu o mandato, disputou o governo do Estado pelo PDT em 2018, migrou para o PSD e reconquistou a prefeitura em 2020, retomou projetos interrompidos e o novo partido passou a pensar nele como possível candidato ao Piratini em 2026.
Nesta quinta-feira, o mundo de Jairo Jorge que resistira a outras investigações e bloqueios de bens veio abaixo com a operação que resultou no seu afastamento do cargo pela Justiça. Com ele, caíram também dos secretários da Saúde, Maicon de Barros Lemos, e do Planejamento, Fábio Cannas.
O tamanho da operação dá ideia do trabalho que o advogado Jader Marques terá para defender o prefeito afastado. Foram cumpridas 81 medidas cautelares contra 24 pessoas físicas e 15 empresas, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais. A investigação envolve contratos no valor de R$ 66,7 milhões, que remontam ao governo anterior de Jairo. A suspeita é de que esquemas de desvio de recursos e lavagem de dinheiro tenham sido remontados em 2021.
Os repórteres Eduardo Mattos e Humberto Trezzi, do Grupo de Investigação da RBS, que acompanharam a operação, se impressionaram com a extensão do trabalho da Procuradoria de Prefeitos. Jairo Jorge acordou com a Brigada Militar no apartamento em que mora no centro de Canoas, um dos endereços em que a Justiça autorizou busca e apreensão. O pedido de prisão, feito pelo Ministério Público, não foi acatado pela 4ª Câmara do Tribunal de Justiça.
Se Jairo é culpado ou inocente, é a Justiça que dirá. O prefeito terá oportunidade de se defender das acusações, mas o abalo em sua imagem e carreira política é inevitável. O PSD, que até a semana passada vinha cortejando o governador Eduardo Leite para concorrer a presidente e conquistou a ex-senadora Ana Amélia Lemos, também acaba atingido pelos estilhaços da bomba. Ainda que a operação não envolva o partido, Jairo é um dos principais expoentes.
Pelo menos temporariamente, o PSD perde a prefeitura de Canoas. O vice, Nedy de Vargas, concorreu pelo Solidariedade, mas hoje está filiado ao Avante.