O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Um ano depois do surgimento das primeiras denúncias contra o deputado Ruy Irigaray (PSL), o processo disciplinar chega aos momentos derradeiros na Assembleia sem qualquer perspectiva de salvação do mandato. Dentre os colegas de Irigaray, a cassação é dada como certa na votação em plenário, prevista para ocorrer na semana seguinte ao Carnaval. Nesta terça-feira (22), o último relatório processual favorável à perda do mandato foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por 10 votos a zero.
Para além do teor das denúncias contra o deputado, que apontam o desvio de função de assessores, pesa o fato de o julgamento transcorrer em ano eleitoral. Como a maioria dos parlamentares deve concorrer à reeleição ou a algum outro cargo público, ninguém quer ficar com a fama de corporativista a poucos meses da eleição. Em paralelo, colegas mais experientes não enxergam em Irigaray habilidades políticas para reverter o quadro adverso.
A única alternativa para o deputado do PSL seria obter decisão judicial para anular o processo. Ele tentou, mas os pedidos de liminar feitos até agora foram negados em primeira e segunda instância. Nos dois casos, os magistrados entenderam que se trata de uma questão “interna corporis” da Assembleia, na qual o Judiciário não deve se intrometer.
Se tudo correr como o planejado, o projeto de resolução que determina a cassação do deputado entrará na ordem do dia do Legislativo na próxima semana. Como não haverá sessão na terça-feira de Carnaval, a decisão sobre a perda do mandato deve ocorrer no dia 8 de março. A votação é aberta, e são necessários ao menos 28 votos para a cassação.
Nesta terça, depois da votação na CCJ, Irigaray disse que os vídeos que embasaram a denúncia contra ele foram adulterados por uma pessoa contratada pelo deputado federal Bibo Nunes (PSL).
— Legalmente, temos todas as provas a nosso favor— declarou Irigaray à repórter Samantha Klein.
Estreante em eleições, ele foi o segundo deputado estadual mais votado do Rio Grande do Sul em 2018, com 102 mil votos, ancorado na proximidade com a família do presidente Jair Bolsonaro e o discurso armamentista. Entre 2019 e 2020, foi secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo do governo Eduardo Leite.
Depois, retornou à Assembleia e conduzia um mandato sem grandes polêmicas até o início de 2021, quando uma reportagem do jornalista Giovani Grizotti, da RBS TV, mostrou duas ex-assessoras acusando-o de utilizar funcionários comissionados para fins pessoais, como a reforma na casa da sogra. Irigaray sempre negou as irregularidades.
Aliás
A cassação de Ruy Irigaray deverá provocar um desfalque no primeiro escalão do governo de Sebastião Melo. O secretário de Desenvolvimento Econômico de Porto Alegre, Rodrigo Lorenzoni, é o primeiro suplente e deve ser chamado a assumir a cadeira de deputado estadual. Eleito pelo DEM, Lorenzoni vai ingressar no PL durante a janela partidária.
Bibo reage
Procurado pela coluna, o deputado Bibo Nunes negou que tenha contratado alguém para editar vídeos com o intuito de incriminar Ruy Irigaray.
— Eu não contratei ninguém. Ele vai ter que provar, ou será processado. É uma pessoa desqualificada — rebateu Bibo.
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