A palavra democracia foi escrita com crisântemos amarelos no dia em que o Brasil lembrou os atos violentos de 8 de janeiro de 2023, quando o Palácio do Planalto e os prédios do Congresso e do Supremo Tribunal Federal foram depredados. Não que o crisântemo tenha o peso que têm os cravos na revolução que derrubou o salazarismo em Portugal ou do que a rosa significa para os socialistas. Trata-se de uma escolha estética. Nenhuma flor se destacaria mais nas fotos e vídeos na Praça dos Três Poderes do que o crisântemo amarelo de folhas verdes, as principais cores da bandeira brasileira.
Os atos que marcaram o segundo aniversário do 8 de Janeiro foram sóbrios, com poucas pessoas na praça em um abraço simbólico que reproduziu os contornos do mapa do Brasil. Dentro do Palácio do Planalto, o presidente Lula leu um discurso irretocável em defesa da democracia, começando pela frase título do filme que deu a Fernanda Torres do Globo de Ouro de melhor atriz de drama, levemente modificada.
“Ainda estamos aqui”, disse Lula, lembrando que se o golpe tivesse dado certo, muitos dos convidados presentes poderiam estar presos, desaparecidos ou mortos, como ocorreu em 1964. O texto escrito, atribuído ao publicitário Sidônio Palmeira, que será o ministro da Comunicação, falou da necessidade de proteger a democracia diante de uma parcela radicalizada da população que defende a intervenção militar.
Lula afagou o ministro da Defesa, José Múcio, e as Forças Armadas, representadas pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Foram elas que cortaram as asas do general Braga Netto, que, segundo a investigação da Polícia Federal, foi um dos líderes da conspiração para impedir a posse do presidente eleito em 2022.
Com o Congresso e o Judiciário em recesso, seus presidentes não compareceram ao ato, que teve representantes dos três poderes, mas sem o peso da manifestação pós 8 de Janeiro, quando Lula reuniu os governadores e os chefes de poder para repudiar a violência e defender a democracia.