A demora do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em tirar do ar a nota técnica 002/2022 — que de técnica não tinha nada — segundo a qual a hidroxicloroquina tem eficácia e segurança maiores do que a das vacinas contra a covid-19 é reveladora da falta de pulso do titular da pasta mais importante em tempos de pandemia. Queiroga desgastou-se à toa com seus pares médicos por se equilibrar na corda bamba da política anticientífica do presidente Jair Bolsonaro. Mesmo depois de Queiroga ter dito que o chamado kit covid não tinha eficácia, a nota em defesa da cloroquina e outras drogas seguiu lá, alvo de críticas da comunidade médica.
A repórter Marina Pagno noticiou que a remoção da nota, para posterior republicação, tem por objetivo “promover maior clareza no conteúdo e evitar interpretações equivocadas”. Não se sabe o que virá no novo documento, mas o divulgado no fim de semana, assinado pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Hélio Angotti Neto, foi desqualificado pela comunidade científica.
Foi desqualificado porque contesta o protocolo aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do Sistema Único de Saúde (Conitec), contrário ao chamado tratamento precoce.
A tendência, segundo a reportagem de Marina, é que o Ministério da Saúde remova a tabela que questiona a imunização para controle do coronavírus e aponta a hidroxicloroquina como uma tecnologia segura para a covid-19. O ministério, porém, não deve voltar atrás na decisão de rejeitar a diretriz terapêutica aprovada pela Conitec que não indicou o uso do remédio para a doença.
Angotti é uma espécie de líder do grupo que, no Ministério da Saúde, defende o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para a doença. Desse núcleo também faz parte a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”.
A nota foi questionada pela Associação Médica Brasileira e por diferentes conselhos regionais de medicina, entre os quais o Cremers-RS. O próprio Queiroga, em entrevista à TV Brasil, disse:
— Essas medicações, inclusive eu já falei, são medicações cujo uso científico ainda não está comprovado, mas essa confusão que querem criar entre vacina e cloroquina é totalmente descabida.
Feito o estrago, ganhou força a ideia de tirar o pai de criança, Hélio Angotti, do Ministério da Saúde. A pretensão de Bolsonaro seria indicá-lo para a vaga que vai se abrir no conselho da Anvisa em julho e, assim, afrontar deu desafeto, o presidente Antônio Barra Torres, que tem mandato e não pode ser demitido.
O problema é que depois de toda a polêmica, Angotti pode ser reprovado na sabatina que precisa enfrentar no Senado. Nessa hipótese, em vez de uma saída à francesa, com ares de promoção, só teria uma exposição maior. E a oposição, por certo, exploraria sem dó nem piedade as contradições e convicções do indicado para um cargo de extrema relevância, pois seria um dos cinco membros da diretoria colegiada.
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