O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
A posse na presidência da Assembleia, nesta segunda-feira (31), representa a coroação da trajetória legislativa do deputado estadual Valdeci Oliveira (PT). Aos 64 anos, Antônio Valdeci Oliveira de Oliveira cumpre o terceiro mandato no parlamento gaúcho e foi escolhido por unanimidade pelos colegas de bancada para ocupar o cargo máximo do Legislativo em 2022.
Protagonista de uma carreira política vitoriosa, Valdeci foi vereador, deputado federal e duas vezes prefeito de Santa Maria (2001-2008), maior município da região central do Estado, antes de chegar à Assembleia. Antes disso, enfrentou uma infância de dificuldades e uma juventude calcada no trabalho como metalúrgico.
De estilo simples e trato cordial, Valdeci é o mais velho dos quatro filhos do casal de pequenos agricultores Joreci e Lenir Oliveira, e nasceu na comunidade de São José da Porteirinha, em Dilermando de Aguiar, na época em que o município era distrito de Santa Maria. Começou a vida ajudando os pais na lavoura em uma época em que “se trabalhava em terra de terceiros para poder sobreviver”, como contou em entrevista ao Gaúcha Atualidade, na Rádio Gaúcha:
— Foi uma vida dura, difícil. Não tenho vergonha de dizer que, em alguns momentos, tínhamos apenas um prato de comida por dia.
Aos 18 anos, Valdeci deixou a roça, serviu um ano no Exército, migrou para a Região Metropolitana e começou a trabalhar como metalúrgico em Porto Alegre, onde deu os primeiros passos no movimento sindical. Em 1981, retornou a Santa Maria para ajudar a cuidar da mãe, que enfrentava um problema de saúde, e começou a trabalhar como balconista em uma loja de tecidos.
Mais tarde, retomou o trabalho na metalurgia, como soldador, e, em 1986 foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santa Maria. No mesmo ano, assinou ficha no PT e ajudou a coordenar a campanha vitoriosa de seu colega de profissão Paulo Paim (hoje senador) à Câmara Federal, no pleito que elegeu os deputados constituintes.
Em 1988, Valdeci estreou na vida pública como candidato a vereador, e uma campanha “terrivelmente franciscana” em que nem ele mesmo esperava se eleger.
— Eu entrei meio por acaso. No último dia da entrega da lista um grupo de companheiros insistiu que eu colocasse o nome para concorrer. E fiz uma campanha de casa em casa, com um único panfletinho em preto e branco. Como não tinha dinheiro, vendia ferro velho, garrafão e outros materiais para conseguir tirar o xerox — relembra.
Os 1.396 votos conquistados foram suficientes para elegê-lo em 9º lugar. Ao lado de Paulo Pimenta, aliado político até os dias de hoje, compôs a primeira bancada petista da história na Câmara de Santa Maria. Quatro anos depois, Valdeci obteve 4.030 votos e foi o vereador mais votado da cidade, com Pimenta em segundo lugar.
O desempenho o cacifou para disputar a eleição para a Câmara dos Deputados em 1994. Desta vez, Valdeci bateu na trave e ficou na primeira suplência. Assumiu o cargo em 1997, quando José Fortunati renunciou para assumir como vice-prefeito de Porto Alegre. Conseguiu se reeleger em 1998, mas não chegou a completar o mandato
Em 2000, foi escolhido como candidato do PT a prefeito de Santa Maria, com Pimenta como vice, entrando em uma briga de gigantes com o então prefeito Osvaldo Nascimento da Silva (PTB), o ex-prefeito José Haidar Farret (PPB) e o deputado Cezar Schirmer (PMDB). Valdeci saiu de um cenário em que tinha menos de 5% nas pesquisas para uma vitória com 33% dos votos, ante 27% de Farret, 20% de Schirmer e 19% de Osvaldo – naquela época, ainda não havia segundo turno no município.
Quatro anos depois, voltou a derrotar Schirmer e Farret, em um pleito ainda mais apertado, e foi o primeiro prefeito reeleito da história da cidade. O petista fez 51.932 votos (35,04%), contra 51.063 (34,45%) de Schirmer e 44.461 (30%) de Farret. Nos dois mandatos, teve de lidar com uma Câmara de maioria oposicionista. Em 2006, enfrentou uma turbulência na relação com o Legislativo, que negou um pedido de licença para Valdeci coordenar a campanha do ex-presidente Lula à reeleição no Rio Grande do Sul.
Mais tarde, ele conseguiu convencer a Câmara e obteve a liberação. Durante seis meses, o vice, Werner Rempel, assumiu a prefeitura, enquanto Valdeci percorreu o Estado para ajudar Lula.
— Conversei muito com prefeitos, vereadores e movimentos sociais, do PT e de outros partidos. Foi um grande aprendizado para o diálogo com setores que não eram do nosso partido — conta o deputado.
Se a tarefa de reeleger Lula foi bem sucedida, o mesmo não aconteceu em Santa Maria. Valdeci trabalhou para fazer de Pimenta seu sucessor na prefeitura, mas o petista foi derrotado por Schirmer e Farret, que desta vez concorreram unidos, como prefeito e vice, e venceram a eleição com uma diferença superior a 20 mil votos.
Companheiro político de Valdeci há mais de três décadas, Pimenta salienta que, apesar de ter ocupado diversos cargos públicos, o novo presidente da Assembleia jamais perdeu sua identidade.
— Ele continua morador da Cohab Tancredo Neves até hoje, é uma pessoa muito simples e humilde, mas muito firme em suas convicções.
O deputado federal brinca que, nesse período, apenas um assunto os divide:
— Temos uma divergência que é insuperável: ele é gremista e eu sou colorado.
Embalado para a Assembleia
Embora não tenha conseguido fazer o sucessor, Valdeci saiu bem avaliado da prefeitura de Santa Maria. Na eleição seguinte, em 2010, elegeu-se deputado estadual com relativa facilidade. Dos 64 mil votos obtidos, 46 mil foram do município que administrou por oito anos, o que representou a maior votação já obtida na cidade em uma eleição proporcional.
Líder do governo Tarso Genro, foi reeleito em 2014, com 44 mil votos, e em 2018, com 57 mil. No meio do segundo mandato, em 2016, tentou voltar à prefeitura de Santa Maria.
No auge da crise da imagem do PT, com o recente impeachment de Dilma Rousseff, Valdeci venceu a eleição no primeiro turno, mas perdeu no segundo por Jorge Pozzobom (PSDB) por uma diferença mínima de 226 votos. Mesmo diante da derrota, não se deixou abalar.
— Nós perdemos apenas uma eleição, não a guerra, não o nosso projeto — disse aos militantes na ocasião, logo após o resultado.
Vida comunitária
Antes e depois de iniciar a trajetória política, Valdeci sempre marcou presença em eventos comunitários e participou de pastorais e movimentos populares. Há três décadas, reside com a esposa, Elaine, na mesma comunidade: a Cohab Tancredo Neves, no oeste de Santa Maria. No mesmo local, residem os pais e o irmão Valdir, atual presidente da Câmara de Vereadores de Santa Maria.
— Foi a primeira casa que consegui, com muita luta, com muita superação trabalhando na metalurgia e levamos 25 anos para pagar — contou, na entrevista à Rádio Gaúcha.
Casado há 37 anos, Valdeci é pai de duas filhas: Tamara, mãe de João Bento (um ano e três meses) e Diossana, mãe de Maria Luísa (7 anos) e madrasta de Bethina (11 anos).
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