Não bastassem todos os problemas enfrentados na pandemia pelos estudantes que se submeterão ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma ameaça paira sobre a realização das provas. Já são 33 os coordenadores e servidores do Inep, órgão responsável pelo Enem, a formalizarem o pedido de demissão — 31 nesta segunda-feira, até as 17h. Como a maioria atua na área de gestão de tecnologia, a pergunta que se impõe é: haverá como realizar o Enem com segurança nos dias 21 e 28 de novembro? Um segundo grupo fará a prova em janeiro.
Os demissionários justificam a debandada com o que chamam de “má gestão” do instituto, órgão ligado ao Ministério da Educação. De acordo com a rede de TV CNN, em ofício encaminhado a diretoria do Inep, os servidores pedem dispensa do cargo “considerando a situação sistêmica do órgão e a fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima do Inep”.
“Não se trata de posição ideológica ou de cunho sindical. A despeito das dificuldades relatadas, reafirmamos o compromisso com a sociedade de manter o empenho com as atividades técnicas relacionadas às metas institucionais estabelecidas em 2021”, diz o ofício, sem esclarecer se até que a demissão seja formalizada todos continuarão desempenhando suas tarefas para garantir a realização da prova, que serve de passaporte para o ingresso nas universidades públicas em geral e para a obtenção de bolsas nas instituições privadas.
A gestão da educação no governo de Jair Bolsonaro foi caótica desde o início. Dois ministros já caíram por incapacidade gerencial, o terceiro mal assumiu e foi exonerado por inconsistências no currículo e o quarto é uma figura sombria, que se comunica mal e submerge nas crises. O Ministério da Educação foi omisso ao longo de toda a pandemia. Não traçou diretrizes nacionais para a recuperação das aulas perdidas, não investiu em políticas para a informatização das escolas e preocupou-se mais com o que desde o início é uma obsessão do governo: a ideologia.
A revista Veja desta semana registra o descontentamento dos servidores com interferências no acesso à sala segura, espaço restrito onde são preparadas as questões. Oito pessoas da lista de 32 autorizados a entrar no local foram banidos - um por ser autor de estudo que sustentava a eficácia de uma política educacional do tempo do PT no governo e outro por ser homônimo de um líder do PSOL no Rio.
No dia 2 de setembro, profissionais que trabalham na confecção das provas foram surpreendidos com a presença de um policial na sede do Inep com uma autorização para entrar na sala segura. No ambiente restrito, esse policial teria feito perguntas sobre a prova, o que foi interpretado por servidores como tentativa de constrangimento. Em edições anteriores, o presidente Bolsonaro se mostrou incomodado com perguntas que, no seu entender, faziam apologia à chamada ideologia de gênero.
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