É possível um presidente lotar as ruas de simpatizantes vestidos de verde e amarelo e amargar um índice de rejeição que se equivale ao de Dilma Rousseff e Fernando Collor às vésperas do impeachment? Sim, é. E os números estão aí para comprovar que não há contradição entre a pesquisa do Datafolha, segundo a qual o governo do presidente Jair Bolsonaro é reprovado por 53% dos entrevistados.
De acordo com a pesquisa, de cada cem eleitores, 22 consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom - na pesquisa anterior eram 24%, mas a variação ocorreu dentro da margem de erro. O Brasil tem 148 milhões de eleitores. Os 22% que segundo o Datafolha aprovam o governo Bolsonaro equivalem a 32,5 milhões de almas. Se 10% desses eleitores fossem para a rua defender Bolsonaro, seriam 3,2 milhões, gente mais do que suficiente para encher as fotos que tanta alegria deram ao presidente.
Os bolsonaristas convictos têm capacidade de mobilização - e isso ficou claro no 7 de setembro. Os que rejeitam o presidente estão dispersos ou, em sua maioria, não têm vocação para passeata.
Ninguém sabe quantos brasileiros foram às ruas no 7 de setembro, nem é isso o que importa para efeito desta reflexão. A maioria absoluta dos eleitores ficou em casa. Quem vai para a rua são os militantes aguerridos, aqueles que põem a mão na foto por seus candidatos. No dia da eleição, votam estes e todos os demais.
O que os institutos de pesquisa fazem ao selecionar amostras representativas do eleitorado é projetar o resultado das entrevistas no universo dos votantes. Sempre foi assim e é assim no mundo inteiro - o que não significa que as pesquisas sempre acertem, nem que os eleitores não mudem de ideia a partir de fatos que alteram a situação.
Na pesquisa do Datafolha, 53% é o índice de eleitores que consideram o governo ruim ou péssimo. Além dos 22% que o classificam como ótimo ou bom, há 24% que atribuem conceito regular. Esses são os suscetíveis a mudar para um lado para o outro, a depender dos fatos.
Os fatos que pesam contra Bolsonaro a um ano da eleição para estar com uma reprovação tão alta são públicos e notórios: a economia vai mal, o presidente arranja confusões desnecessárias, a pandemia segue matando e ele se recusa até mesmo a receber a vacina, na contramão do que pensa a maioria dos brasileiros.
Mesmo que o ministro Paulo Guedes diga o contrário, o desemprego assombra mais de 14,4 milhões de brasileiros, a inflação oficial ronda a casa dos 10%, com impacto direto no bolso, pelo aumento dos combustíveis, do gás, da energia elétrica e dos alimentos.
A pesquisa ouviu 3.667 pessoas com mais de 16 anos dos dias 13 a 15 de setembro em 190 municípios brasileiros. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
O Datafolha detectou movimentos que deveriam preocupar Bolsonaro e seus conselheiros, se ele acreditassem em pesquisas:
- A rejeição cresceu de 45% para 51% entre os eleitores mais velhos, de 49% para 55% entre os de menor grau de instrução, de 41% para 50% na faixa de 5 a 10 salários mínimos (classe média) e de 54% para 56% na faixa até 2 salários mínimos;
- Entre os evangélicos, um dos redutos eleitorais do presidente, a reprovação chegou a 41%, contra 29% de aprovação;
- Os empresários são o único segmento em que Bolsonaro tem aprovação numericamente superior à reprovação: 47% a 34%.
- Entre os eleitores com renda mensal acima de 10 salários mínimos a reprovação caiu de 58% para 46%.
- A reprovação ao governo Bolsonaro chega a 85% entre os eleitores com nível de instrução superior e 73% entre os estudantes.
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