Usada pelo presidente Jair Bolsonaro como exemplo de sucesso no tratamento de pacientes da covid-19 com hidroxicloroquina, ivermetctina, azitromicina e outras drogas, a Prevent Senior acabou por se revelar o epicentro de um escândalo que terá desdobramentos para além da CPI da Covid. A confissão do diretor executivo Pedro Benedito Batista Junior, de que médicos eram orientados a mudar o código de diagnóstico para que constasse outra doença no atestado de óbito dos pacientes internados há mais de duas semanas com coronavírus é de uma gravidade que só encontra paralelo em outra denúncia de médicos ligados ao plano.
Trata-se da revelação de que pessoas foram usadas em testes com cloroquina sem que o paciente ou a família fossem informados e que o número de mortos entre essas cobaias foi alterado nas planilhas do estudo.
Poderia ser apenas um escândalo envolvendo um plano de saúde privado, que deve satisfações a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), não fossem as conexões da Prevent com o que se convencionou chamar de gabinete paralelo no Ministério da Saúde. Trata-se de um grupo de médicos adeptos do uso do chamado tratamento precoce ou kit covid, liderados por Nise Yamaguchi, que convenceram Bolsonaro da eficácia de medicamentos que pesquisas sérias comprovaram ser ineficazes.
Conforme vão surgindo novas informações, o escândalo toma ares de bola de neve. Dois casos são particularmente gritantes: o do médico Anthony Wong, negacionista da gravidade da pandemia, que morreu depois de ter tomado o coquetel apregoado por Bolsonaro e mais algumas drogas, além de ter recebido ozônio pelo reto. Internado no Hospital Sancta Maggiore, propriedade da Prevent, sob os cuidados de Nise Yamaguchi, Wong teve de ser entubado e morreu, mas seu prontuário foi adulterado e o atestado de óbito indicou outra causa para a morte.
Semelhante é o caso da mãe do empresário Luciano Hang, cujo atestado de óbito foi adulterado, segundo denúncia de médicos do mesmo hospital. Embora o próprio Hang tenha confirmado que a mãe teve covid-19 e lamentado não ter dado cloroquina a ela, o prontuário indica outra causa mortis. Também consta no documento que, sim, antes de dar entrada no hospital, ela recebeu cloroquina, ivermectina e outras drogas do kit.
Por esses dois casos e pela confissão do diretor executivo pôde-se imaginar quantos pacientes morreram por covid-19 e não entraram para a estatística. Ocorreu exatamente o contrário do que Bolsonaro divulgou com base em um relatório fraudulento de um funcionário do Tribunal de Contas da União, segundo o qual prefeitos e governadores estariam inflando o numero de mortos.
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