Sem possibilidade de viajar de avião e disposta a fugir das aglomerações, tive de reinventar as férias nas duas semanas em que fiquei afastada do trabalho. Para descansar o corpo e a mente longe de casa, escolhi caminhos que não havia percorrido. Compartilho aqui para mostrar que nem só de praias lotadas são feitas as horas de lazer.
Comecei por um que sempre evitara, o outro lado da Lagoa dos Patos, temendo os horrores da antiga Estrada do Inferno, que é hoje uma rodovia com trechos excelentes, outros nem tanto, mas plenamente transitável de Capivari a São José do Norte, onde desfrutamos o melhor rodízio de frutos do mar de uma vida inteira. O restaurante, simples e barato, fica na Praia do Mar Grosso e leva o nome de Atalaia.
Mostardas, sempre uma abstração, se materializou na forma de cidade e de praia com dunas muito brancas e deserta. Em Tavares, a grandiosidade da Lagoa dos Patos, que não conhecíamos pelo outro lado, seguindo a BR-116. Até por Bojoru, cidadezinha de literatura, meio Macondo, passamos para conhecer.
Pela primeira vez cruzamos a lagoa de balsa, entre São José do Norte e Rio Grande, sem sair do carro. Do último andar do hotel, tive a vista panorâmica de Rio Grande, cidade que só conhecia de viagens a trabalho. Circulei pelas ruas do centro, sem tirar a máscara, e ao fim do dia contabilizei seis quilômetros de caminhada.
O melhor ainda estaria por vir. Em Pinheiro Machado, acompanhamos o início da colheita e tivemos uma aula magna sobre cultivo de oliveiras e produção de azeites com Luiz Eduardo Batalha, um cavalheiro que também pode ser chamado de lenda do agronegócio, visionário de empreendimentos nunca antes imaginados no Pampa gaúcho.
Nesse mesmo pampa de horizontes sem fim, conhecemos outro lugar encantador, a Vila do Segredo, entre Caçapava do Sul e Lavras. Pelas fotos, parece a Toscana. Pela casa em estilo colonial — porque a pousada tem apenas quatro suítes—, um pedacinho de Portugal. Outra aula sobre azeites com Renato Fernandes, outro mestre do bem receber.
Encerramos a jornada pela vizinha Santa Catarina, antes admirada pelas praias. Escolhemos o silêncio da Vila Rosa, na Praia Grande, uma casa com vista para os cânions chamada de Recanto dos Compadres. Por cinco dias foi nossa casa, com riachinho aos fundos, pássaros cantando e entardeceres que pareciam telas pintadas a óleo.