Nas reuniões que terá hoje com dirigentes empresariais e prefeitos, o governador Eduardo Leite vai usar números para tentar convencê-los de que é preciso restringir as atividades econômicas por uma semana ou duas, para evitar prejuízos maiores ali adiante:
– A situação nunca foi tão grave. Precisamos fazer uma parada técnica e acompanhar o comportamento do vírus, sob pena de assistir ao colapso do sistema de saúde.
Leite diz que precisa do engajamento dos prefeitos para fiscalizar o cumprimento dos decretos e, por isso, não pode impor a suspensão do sistema de cogestão com um “canetaço”:
– Tenho autoridade para tomar decisões, mas minha caneta não é tão poderosa assim. Os prefeitos também foram eleitos e têm legitimidade para participar das decisões.
A reunião com os prefeitos está marcada para as 10h. Antes, Leite fará reunião com representantes dos demais poderes e do Ministério Público e dirigentes de entidades empresariais que resistem à adoção dos protocolos previstos na bandeira preta. O comitê de crise apresentará os dados que mostram um aumento exponencial dos casos e das internações, com risco de colapso para o sistema de saúde. Os gráficos mostram que a curva nunca foi tão íngreme.
No fim de semana, integrantes do governo ouviram de empresários e políticos que seria muito radical passar das regras de bandeira laranja para a preta de uma semana para a outra. Embora a maioria das regiões esteja em bandeira vermelha, a cogestão faz com que os protocolos adotados sejam os da cor laranja, de restrições mínimas. O pedido é para que se mantenha a cogestão e que, se a situação se agravar, na semana seguinte passe para as restrições mais radicais da bandeira preta.
Leite propõe o contrário: que se pare agora, para conter a disseminação do vírus, como fazem os países europeus, e se abrandem as restrições na semana seguinte, se os números refluírem. O problema é que as previsões dos dirigentes de hospitais são de aumento dos casos nos próximos 15 dias, como reflexo das aglomerações do Carnaval.
ALIÁS
O governador, que em dezembro, quando a situação não era tão grave, suspendeu a cogestão, deve pensar duas vezes antes de ceder às pressões de prefeitos, sob pena de ver desmoralizado o modelo de distanciamento controlado. a bandeira preta é o último estágio de um plano que não contempla o lockdown.
Comitês científico recomenda suspensão da cogestão
Na noite deste domingo, o Comitê Científico do governo do Estado, coordenado pelo secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia, emitiu uma nota recomendando a suspensão do sistema de cogestão. Diz a nota: "Baseado nos indicadores epidemiológicos e considerando a gravidade da situação da pandemia de covid-19 em todo o Estado, o Comitê Científico recomenda fortemente a suspensão do sistema de cogestão".
O comitê divulgou também uma recomendação aos gestores, atualizando informações divulgadas anteriormente. Confira a íntegra:
"Estamos vivendo o pior momento da pandemia no nosso estado, conforme os boletins diários de casos e hospitalizações: https://planejamento.rs.gov.br/comite-de-dados
Além de termos os maiores números de pacientes internados (1.743 pacientes internados fora das UTIs e 1.038 em UTIs) e a maior velocidade de aumento desde o início da pandemia (média de 160 pacientes internados por dia fora das UTIs nos últimos 5 dias), as equipes de saúde estão esgotadas.
Houve um aumento muito brusco das internações nos últimos dias, o que levou vários hospitais a tomarem medidas como a suspensão de cirurgias eletivas e outros atendimentos.
Isso ocorreu antes do efeito das aglomerações do feriado de Carnaval, ou seja: baseados nos modelos de propagação da epidemia utilizados até o momento, estamos nos encaminhando para um esgotamento do sistema de saúde.
Diante disso, o comitê científico recomenda aos gestores que considerem as seguintes medidas:
1. Aumentar o rigor das medidas de distanciamento físico e redução de circulação de pessoas, principalmente limitando aglomerações em locais fechados. Exemplos: suspender festas e eventos, restaurantes somente com comida para levar ou com ambientes ao ar livre.
2. Verificar e garantir infraestrutura hospitalar face ao agravamento dos casos. Exemplos: equipes, estoques de oxigênio e EPIs.
3. Dedicar especial atenção à política de testagem. Considerar o uso de Diagnóstico por teste rápido de antígenos para isolamento mais rápido de casos e contatos.
4. Promover campanhas massivas de comunicação ressaltando a importância das medidas de proteção, como distanciamento e uso de máscaras bem ajustadas.
5. Incentivar a indústria produzir mais máscaras de boa qualidade e que os empregadores forneçam maciçamente estas máscaras aos colaboradores que precisam se manter em trabalho presencial.
6. Incentivar as empresas e instituições que mantenham ambientes ventilados e possibilitem o trabalho remoto sempre que possível.
7. Avaliar as opções de distribuição de máscaras para a população e/ou subsídio para a aquisição de máscaras de boa qualidade.
8. Revisar os protocolos de segurança diante das novas evidências, que focam na diminuição da transmissão pelo ar e reduzem a importância de medidas como limpeza de superfícies ou mensuração de temperatura.