O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Insuflado pela mobilização de um grupo de deputados federais do PSDB, o governador Eduardo Leite ingressou de vez, nesta quinta-feira (11), no centro da disputa pela indicação do partido à corrida presidencial de 2022. É verdade que o movimento foi engendrado pelos tucanos como reação à tentativa do governador de São Paulo, João Doria, de tomar o comando do partido. Mas também é verdade que, entrando no jogo, Leite tem condições de disputar com Doria a nomeação do partido para compor uma chapa presidencial.
O governador gaúcho, 28 anos mais jovem que o correligionário, construiu um perfil conciliador e faz questão de evitar bolas divididas, enquanto Doria coleciona desgastes, sobretudo dentro do PSDB, desde que resolveu entrar para a vida pública.
O ressentimento interno começou ainda em 2016, nas prévias da eleição para prefeito de São Paulo. A disputa deflagrou um conflito público entre Doria e o ex-governador paulista Alberto Goldman, nome respeitado pela cúpula tucana. Goldman passou a criticar duramente a gestão de Doria, que respondeu em um vídeo afirmando que o ex-governador colecionava fracassos. Goldman faleceu em 2019, sem que o atrito fosse resolvido.
Um ano depois de ganhar a eleição, Doria começou a percorrer o país para se colocar como uma alternativa a seu então padrinho Geraldo Alckmin como candidato a presidente. Na ocasião, chegou ao ponto de cogitar trocar de partido para concorrer, mas não levou a ideia adiante. Questionado sobre a postura de Doria na pré-campanha, Alckmin costumava usar uma frase de Santo Antônio de Pádua: “Quando não puder falar bem, não diga nada”.
Sem conseguir desbancar o ex-governador, Doria se lançou candidato ao governo de São Paulo. Como Alckmin não decolava nas pesquisas de intenção de voto, manteve certa distância do ex-padrinho no primeiro turno, para abraçar de vez a candidatura de Jair Bolsonaro no segundo.
Em um áudio vazado da reunião fechada da cúpula tucana, dois dias depois da eleição, Alckmin interrompeu a fala de Doria para insinuar que foi traído pelo antigo pupilo.
— Traidor eu não sou — desabafou.
Meses depois, quando Alckmin teve os bens bloqueados em um processo que investiga suspeitas de uso de caixa 2 em campanha, Doria disse que o ex-padrinho deveria se licenciar do PSDB, irritando de vez os alckmistas.
Passado o ano de 2020, em que centrou fogo na briga pública com o presidente Jair Bolsonaro, o tucano voltou a provocar descontentamentos no PSDB ao cobrar a expulsão do deputado Aécio Neves e iniciou articulações para assumir o comando do partido a partir de maio, o que facilitaria sua pretensão de disputar a presidência da República.
Lançado em um jantar com deputados tucanos na segunda-feira, o movimento foi considerado precipitado e culminou na reação da ala descontente com o governador paulista, que incentivou Leite a se colocar no jogo para 2022. O apelo foi aceito nesta quinta-feira, em almoço no Galpão Crioulo do Palácio Piratini.
Apesar das polêmicas de Doria, a missão de se cacifar como um quadro nacional não é simples para o inquilino do Piratini. Leite não poderá jogar parado e precisará empreender movimentos públicos, o que pode ampliar o racha no partido. Além disso, caso comece a conquistar visibilidade, terá de se preparar para a ofensiva de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que, hoje, têm Doria como principal algoz.
Aliás
Sempre que pode, João Doria se refere publicamente a Eduardo Leite como “o jovem governador do Rio Grande do Sul”. A expressão é interpretada por aliados do gaúcho como uma tentativa de carimbá-lo como pouco experiente.
Aliás II
Amigo do apresentador Luciano Huck, Leite poderia ser convencido a concorrer a vice-presidente na chapa de Huck, caso o PSDB decida apoiá-lo. A julgar pelo estilo de Doria, o governador de São Paulo jamais aceitaria ser coadjuvante.
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