Há alguns meses, quando era questionado sobre a possibilidade de concorrer ao Palácio do Planalto, o governador Eduardo Leite desconversava. Neste final de ano, mesmo cheio de ressalvas, o discurso mudou. Leite admite que vai trabalhar para quebrar a polarização entre esquerda e direita, buscando uma alternativa de centro, e não descarta ser candidato a presidente ou a vice.
A resposta à pergunta é dada de forma ainda vaga, mas parte da premissa de que qualquer político que goste do que faz tem o direito de sonhar com o cargo mais importante da República. Na entrevista que deu na quarta-feira (23) a GZH, repetiu a frase atribuída a Tancredo Neves e citada por todos os que sonham com o Palácio do Planalto, mas sabem que chegar lá depende de uma combinação de variáveis:
— Tenho perfeitamente claro que Presidência é destino. Tantas pessoas se prepararam tanto para ser e não foram e tantas outras não se preparam em absoluto e acabaram sendo.
Leite passou a não descartar a hipótese de ser candidato depois de ser procurado por líderes que buscam desesperadamente um nome capaz de evitar a reprise de 2018, com um segundo turno entre Jair Bolsonaro e o candidato do PT.
— É verdade que tenho sido procurado por pessoas que entendem que posso ser uma alternativa. Estou com 35 anos e é uma grande honra, um sinal de reconhecimento. Como candidato? É muito cedo, absolutamente prematuro, para dizer. Eu participo das discussões, quero ajudar a construir uma alternativa e naturalmente participaria como candidato, mas não é o que me move no trabalho aqui no Estado. O que quero é ajudar o país a ter um caminho sereno.
Tenho perfeitamente claro que Presidência é destino. Tantas pessoas se prepararam tanto para ser e não foram e tantas outras não se preparam em absoluto e acabaram sendo.
EDUARDO LEITE
Governador
Quando fala em “destino”, Leite recorda que sua principal referência na política, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, só chegou à Presidência porque estava no lugar certo na hora certa. No caso, o Ministério da Fazenda de Itamar Franco, quando o Plano Real debelou a inflação. Sem isso, mesmo com todo o preparo que tem, FHC não teria sido presidente. Leonel Brizola, Mario Covas, José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves chegaram a ser considerados favoritos, mas os brasileiros optaram por candidatos improváveis, como Fernando Collor, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro.
Leite está longe de ser o candidato natural do centro em 2022. Pesam contra ele a pouca idade (35 anos hoje), a falta de força (e de unidade) do Rio Grande do Sul, a crise que impede o Estado de ser vitrine para um projeto inovador, a concorrência do governador de São Paulo, João Doria, e do apresentador Luciano Huck, mais conhecido no Nordeste.
ALIÁS
Desde a redemocratização, os brasileiros nunca elegeram um presidente com experiência administrativa relevante. Fernando Collor tinha sido prefeito de Maceió, deputado e governador de Alagoas; Fernando Henrique, senador e ministro; Lula, sindicalista e deputado federal; Dilma Rousseff, secretária de Estado e ministra; e Jair Bolsonaro, deputado federal.