No final do século passado, os constantes engarrafamentos a cada içamento da ponte móvel do Guaíba já irritavam os moradores de Guaíba e Eldorado do Sul que trabalhavam em Porto Alegre ou ficavam trancados quando estavam a caminho de um exame ou consulta médica. A concessão das BR-290 e 116 à iniciativa privada, no governo de Fernando Henrique Cardoso, cercou Porto Alegre de pedágios, mas não previu a duplicação das rodovias nem a construção da nova ponte. Foi em 2005, que nasceu, de forma organizada, um movimento pela construção da travessia.
Deputado estadual à época, o prefeito de Guaíba, José Sperotto (PTB), aderiu ao movimento e passou a colher assinaturas dos colegas para levar a demanda a Brasília.
— Me chamavam de maluco, mas assinavam. Todos os 55 assinaram — lembra.
Sperotto recorda de um dia em que o vão móvel teve problemas e ele ficou cinco horas parado na estrada. Uma grávida a caminho da maternidade teve de ser levada de helicóptero para não dar à luz em pleno engarrafamento. A Metade Sul reclamava que a falta de uma segunda ponte e a pista simples da BR-116 travavam seu desenvolvimento e o movimento começou a ganhar novos aliados.
Em Brasília, o grupo ganhou primeiro o apoio do senador Paulo Paim (PT), que se comprometeu a abrir caminho no governo Lula e apresentou o grupo ao ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. O então senador Sergio Zambiasi (PTB) primeiro duvidou da viabilidade. Depois, tornou-se um dos principais padrinhos da demanda, mas nada avançou no governo Lula.
Na campanha de 2010, durante o Painel RBS, a candidata Dilma Rousseff assumiu o compromisso com a obra. Eleita, barrou um projeto de construção da ponte pela Concepa, em troca da prorrogação do prazo de concessão, e anunciou que a obra seria feita com recursos públicos. A então senadora Ana Amélia Lemos (PP) aderiu ao movimento pela construção da ponte. A bancada gaúcha na Câmara fez o mesmo.
Dilma começou a transformar o sonho dos “malucos” em realidade em 2014, ao lado do ministro Paulo Sérgio Passos, quando assinou finalmente o contrato para início das obras, mas faltava a licença ambiental. A obra só começou em 2015. Estava ainda na fase inicial quando Dilma foi tirada do cargo pelo impeachment.
Seu sucessor, Michel Temer, se comprometeu a levar o projeto adiante. O ministro Carlos Marun conseguiu colocar a obra na lista de prioridades do governo Temer, ampliou o orçamento, mas não teve sucesso em inaugurar no final de 2018, como era seu desejo.
Foram necessários mais dois anos para que a ponte, hoje a maior obra pública em andamento no Brasil, pudesse ser inaugurada, mesmo incompleta. Se este não fosse o país do radicalismo político, Dilma e Temer estariam ao lado do presidente Jair Bolsonaro na inauguração. No discurso, o mínimo que se espera é que alguém faça justiça e divida os créditos com quem permitiu que a obra não ficasse apenas na imaginação dos visionários.