A vitória de Sebastião Melo no segundo turno em Porto Alegre começou a ser construída na formação da aliança com o Democratas, que indicou Ricardo Gomes como vice. Liberal convicto, Gomes abriu caminho para Melo, um político de origem na centro-esquerda, em um nicho que em 2016 fechou com Nelson Marchezan.
A missão inicial de Gomes era “endireitar” o cabeça de chapa, introduzindo na campanha a defesa da liberdade econômica, das privatizações e das parcerias público-privadas. O DEM agregou tempo de TV e capacidade de atração e financiadores de campanha.
Ao perfil de centro-direita da chapa, Melo agregou seus anos de militância política e a popularidade em áreas de periferia, além da facilidade de se comunicar com eleitores mais humildes. Nos mandatos de vereador, presidente da Câmara e vice-prefeito de Porto Alegre, percorreu cada palmo da cidade e criou laços com lideranças comunitárias, além de conhecer os problemas de cada região.
A perspectiva de eleição, quatro anos depois de ter sido derrotado por Marchezan, se consolidou na segunda-feira anterior ao primeiro turno, 9 de novembro, quando o Tribunal Regional Eleitoral indeferiu o registro da candidatura do vice de José Fortunati (PTB), André Cecchini, ao Patriota. Dois dias depois, Fortunati renunciou e o PTB declarou apoio a Melo.
A filiação de Cecchini foi questionada por um obscuro vereador do PRTB, partido aliado de Melo.
Na pesquisa anterior à renúncia, Melo e Fortunati estavam tecnicamente empatados no segundo lugar com o prefeito Nelson Marchezan (PSDB). Juntado sua força com a saída de Fortunati e o enfraquecimento de Marchezan (alvo de um processo de impeachment na Câmara sustentado por aliados de todos os adversários), Melo obteve o primeiro lugar no primeiro turno. Começava ali uma nova eleição.
Melo ganhou o apoio de três dos candidatos derrotados no primeiro turno - João Derly (Republicanos), Valter Nagelstein (PSD) e Gustavo Paim (PP). Uma tropa de choque entrou em ação para tentar desconstruir a imagem de Manuela, com acusações do tipo “ela vai fechar as igrejas se for eleita” ou “se ela ganhar vamos comer churrasco de carne de cachorro, como na Venezuela”.
A adesão do PTB, na última hora, agregou mobilização nas comunidades periféricas. A resistência ao PT e ao partido de Manuela, que leva “comunista” no nome, fizeram a outra parte.
O primeiro, desafio de Melo será unificar uma cidade cindida pelo acirramento dos ânimos no final da campanha. O segundo, montar um governo que contemple as múltiplas forças que o apoiaram, sem transformar a administração numa colcha de retalhos.