Quando desembarcar em Cambará do Sul, nesta quarta-feira (14), para lançar o edital de concessão do Parque Nacional dos Aparados da Serra, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, vai encontrar uma comunidade dividida entre o otimismo e a apreensão. Ninguém discorda da necessidade de melhorar a estrutura do parque, mas ainda há perguntas importantes sem resposta.
O otimismo vem da perspectiva de ampliação do número de turistas e da riqueza gerada por esse contingente de brasileiros e estrangeiros interessados em explorar os cânions formados há mais de 130 milhões de anos. A apreensão decorre da preocupação com a possibilidade de a exploração econômica desfigurar o mais conhecido patrimônio ambiental do Rio Grande do Sul, hoje com acesso restrito.
Moradores de Cambará temem também que a cidade fique à margem dos benefícios gerados pela concessão, já que o projeto prevê a construção de dois acessos (a partir da RS-020) que permitirão aos visitantes chegar aos cânions Itaimbezinho e Fortaleza sem passar pela cidade. Hoje, é preciso percorrer 23 quilômetros de estrada de terra, com muita pedra, para chegar ao Fortaleza e 18 quilômetros para acessar o Itaimbezinho. Parte dos moradores se preocupa com o risco, para os animais que habitam o local, como o leão baio e o lobo guará, de abrir uma estrada asfaltada no meio do parque.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, nesta terça-feira (13), Salles garantiu que as preocupações são infundadas e que Cambará será beneficiada com a geração de emprego e renda com a entrada de um parceiro privado na gestão do parque. A previsão é de que o número de visitantes passe de 200 mil para 1 milhão por ano.
Hoje, a falta de estrutura e a dificuldade de acesso impedem que mais pessoas visitem o parque, embora a entrada seja gratuita. Com a concessão, haverá cobrança, mas ainda não se sabe quanto. Para efeito de comparação, para visitar as Cataratas do Iguaçu o turista brasileiro paga R$ 43 pelo ingresso de adulto e R$ 11 para crianças de 2 a 11 anos.
No cânion Fortaleza, não há sequer sanitários. Em uma das trilhas, uma plaquinha escrita de forma rudimentar orienta o visitant que precisar fazer necessidades fisiológicas a cavar um buraco de 15 centímetros, sem arrancar a vegetação, e tapar com terra. Não há como comprar nem mesmo uma garrafa de água.
Com a concessão, será possível construir hotéis, pousadas, restaurantes e oferecer atividades como rapel, trilhas de bicicleta e outras atrações que não estão especificadas no edital. Segundo o ministro, ganhará a licitação quem oferecer o maior volume de investimentos em menor tempo, o que deixa no ar um imenso ponto de interrogação sobre o que, de fato, será dos Aparados a partir de 2021.
Salles garantiu que não serão permitidas construções que descaracterizem o principal cartão postal do Rio Grande do Sul. Quando o tema começou a ser discutido, falava-se em teleférico, mas o ministro diz que no edital não há nada previsto. Hoje, Salles diz apenas que o edital não tem nada de específico e que poderão ser propostas diversas estruturas, “se houver viabilidade técnica e interesse do concessionário e dos visitantes”, sempre com o aval do ICMBio.
Aliás
A dificuldade de acesso ao Parque Nacional dos Aparados da Serra não chega a afugentar os visitantes. No domingo, logo depois do meio-dia, mais de 500 carros, ônibus e vans formavam fila para entrar na área do cânion Fortaleza, onde só podem permanecer 500 pessoas por vez.
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