O que ocorre no Rio Grande do Sul em relação à volta às aulas é curioso: entre os prefeitos que mais resistem a reabrir escolas estão alguns que, mais de uma vez, ameaçaram desobedecer ao decreto do governador para autorizar a volta das atividades econômicas. São gestores que brigaram para reabrir o comércio, por exemplo, quando a cidade estava em bandeira vermelha (com alto risco de contaminação pelo coronavírus), mas anunciam a manutenção de escolas fechadas até o final do ano, mesmo sem saber qual será o comportamento do vírus nas próximas semanas.
O decreto do governador Eduardo Leite levantou as restrições, mas não obriga nenhum prefeito a reabrir as escolas públicas ou autorizar a retomada nas instituições particulares. Somente os municípios em bandeira amarela ou na laranja por no mínimo duas semanas podem reabrir as escolas, seguindo uma série de protocolos que já deveriam estar nos planos dos prefeitos quando o governo apresentou a primeira proposta de calendário, lá em maio.
Os mais previdentes – ou que compreendem a necessidade de reabrir as escolas depois de seis meses de paralisação – adotaram medidas para preparar a volta. Outros nada fizeram e agora reclamam da autonomia dada pelo governador, que respeita as particularidades de cada município.
Agora que precisam dar a palavra final, os prefeitos se dividem em quatro grupos: os que vão reabrir as escolas infantis da rede pública nesta terça (8) e autorizar as particulares a fazer o mesmo (minoritário), os que pretendem manter as aulas suspensas para todos até o final do ano, os que esperam ter maior clareza sobre a evolução da pandemia e aguardarão pelo menos até o início de outubro e os que aceitam liberar a rede privada, mas mantêm fechadas as instituições de responsabilidade do município.
Por trás dessa diversidade de comportamentos está não só a incerteza em relação ao vírus, mas o medo de perder votos. Esse é um dos efeitos colaterais da realização de eleições em meio à pandemia. Como uma pesquisa do Ibope mostrou que a maioria dos brasileiros só quer a volta às aulas quando houver vacina, candidatos à reeleição temem perder pontos optando por um caminho que contrarie o senso comum.
ALIÁS
Fora do grupo de risco, o coronavírus não é mais perigoso para professores do que para os profissionais de saúde, atendentes de farmácia e supermercados, que estão trabalhando desde o início da pandemia.