A pressão dos empresários pela reabertura da economia, somada à desconfiança de que o governo tenha adotado critérios políticos no julgamento dos recursos de prefeitos descontentes com a classificação em bandeira vermelha (de alto risco para o coronavírus), desencadeou uma nova rebelião no Estado.
Mesmo contrariando a orientação do Ministério Público, que defende a centralidade na definição da política de distanciamento, prefeitos inconformados começam a editar decretos com regras próprias, ignorando a lógica das regiões.
O prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal (PP), até então defensor do modelo de distanciamento, foi um dos primeiros a reagir. Ainda na noite de segunda-feira, postou uma reclamação em seu perfil no Twitter:
"Quatro regiões com índices piores que a R08-Canoas foram para a bandeira laranja. Os 18 municípios daqui, contudo, permaneceram na vermelha. A decisão técnica do modelo deu lugar á política. A região está pagando um preço para não 'constranger' Porto Alegre. Isso é inadmissível".
Na manhã desta terça-feira (4), Pascoal editou decreto abrandando as restrições à atividade econômica em Esteio. Os prefeitos de Novo Hamburgo, Fátima Daudt (PSDB), e de Cachoeirinha, Miki Breier (PSB), foram pelo mesmo caminho.
O prefeito de Canoas optou por conversar com o governador Eduardo Leite ou com o vice Ranolfo Vieira Júnior antes de adotar qualquer medida. À coluna, Luiz Carlos Busato disse que "está havendo uma revolta" entre os prefeitos da Região Metropolitana com referência aos dados revisados na segunda-feira (3):
— A insatisfação se dá em virtude de que a Região 8 tinha um índice de 1,60 considerando um número de óbitos tabulados errados. Foi feita a revisão e não baixamos o índice (que está no limite entre laranja e vermelho). Pelotas tinha 1,63, Caxias, 1,68, Bagé, 1,74, Palmeira das Missões, 1,76. E todos retornaram à bandeira laranja.
No fim de semana, prefeitos da região da Serra liberaram atividades econômicas com decretos que contrariavam o protocolo do Estado para zonas consideradas de risco alto (bandeira vermelha). O Ministério Público foi à Justiça, atendendo pedido da Procuradoria-Geral do Estado, e conseguiu reverter os decretos. Na segunda-feira, a Serra teve atendido seu recurso e passou da bandeira vermelha para a laranja.
A reação dos prefeitos ocorre no momento em que os presidentes das associações de municípios estão reunidos com o governador para discutir a proposta do Piratini de flexibilização do modelo. Na véspera, o presidente da Famurs, Maneco Hassen, divulgou pesquisa que mostra a divisão entre os prefeitos.