A liberação das atividades econômicas no Rio Grande do Sul, incluindo as regiões que estão em bandeira vermelha no modelo de distanciamento controlado, somada à apresentação de uma proposta de retomada das aulas presenciais pela Secretaria da Educação, passa a ideia de que o pior da pandemia já passou. Não é o que dizem os números.
Passados quase cinco meses do início das restrições, as curvas de casos, mortes e ocupação de leitos de UTI estão em ascensão ou estabilizadas em patamares elevados. Diferentemente da maioria dos outros países, que só abrandaram as restrições quando essas três curvas apresentavam queda consistente, o Rio Grande do Sul retoma as atividades sem ter nenhum sinal de que o pico já tenha sido atingido.
A pressão sobre as autoridades se tornou insuportável e foi minando o discurso da decisão com base na ciência e nos dados. A combinação entre o esgotamento da capacidade de resistência das empresas, o cansaço das pessoas com a quarentena e a cobrança pela liberação do futebol minaram a resistência das autoridades sanitárias. A esses elementos soma-se a naturalização das mortes.
O Brasil passou de 100 mil óbitos no fim de semana passado. São, em média, cerca de mil óbitos notificados por dia, mas a população parece anestesiada, mesmo que seja difícil encontrar alguém que não tenha um parente, um amigo ou um conhecido entre as vítimas.
O modelo de distanciamento controlado, criado para orientar a retomada das atividades econômicas, foi sendo remendado para não sucumbir ao movimento de desobediência civil dos prefeitos. Na mais recente mudança, os prefeitos foram autorizados a adotar os protocolos de uma bandeira menos restritivas, se esse for o desejo de dois terços dos dirigentes dos municípios daquela região.
A volta às aulas é um dos capítulos mais delicados da história da pandemia no Estado. De um lado, os pais que precisam voltar ao trabalho querem um porto minimamente seguro para deixar os filhos. Do outro, os que conseguem trabalhar em casa ou têm com quem deixar as crianças não cogitam de expô-las ao contágio.
Com raras exceções, as escolas públicas não conseguiram oferecer aulas remotas capazes de substituir, minimamente, os encontros presenciais, seja pelas dificuldades materiais de equipamentos, seja pela inexperiência dos professores. Mesmo nas instituições particulares, o desempenho não é uniforme. Para milhares de alunos de todos o s níveis, 2020 será um ano perdido.