Mesmo com o recuo do governo do Estado, que aceitou os recursos de três regiões e as manteve em bandeira laranja (Caxias do Sul, Erechim e Palmeira das Missões), o Rio Grande do Sul não tem motivo para relaxar. Pelo contrário. A situação se mantém crítica na Região Metropolitana e Litoral Norte e evolui negativamente no Sul, que até então vinha com bons resultados.
Em Porto Alegre, durante a reunião do comitê que monitora a evolução da covid-19, o prefeito Nelson Marchezan (PSDB) fez um alerta pelo Twitter: “Situação se agrava e projeções do mês se confirmam. Devemos chegar no final desta semana no nosso limite aceitável de ocupação de leitos. Hoje temos 141 leitos de UTI covid ocupados (por pacientes com teste positivo)”.
Marchezan tem razão para se preocupar: a curva não para de subir. Ao final da tarde, já eram 146 confirmados, mais 31 suspeitos, nos hospitais da Capital, o que significa 77,39% de ocupação.
Nos municípios vizinhos, a situação é igual ou pior. Um dia depois de comunicar o governador e os colegas da região que o sistema de Canoas estava entrando em seu limite, o prefeito Luiz Carlos Busato (PTB) disse que o Rio Grande do Sul começou “muito cedo o lockdown”. Embora nenhuma cidade gaúcha tenha, de fato, adotado o fechamento total, como ocorreu na Europa, e Canoas esteja entre as que primeiro flexibilizaram as restrições para o comércio, Busato diz que as pessoas e as empresas estão cansadas:
— Infelizmente estamos aprendendo a consertar o carro com ele andando. Se tivéssemos as bandeiras lá no início teríamos controlado a angústia melhor.
A prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt (PSDB), diz que passa “24 horas por dia sob tensão”. Além do risco de faltarem leitos, a preocupação é com a saúde dos profissionais. No início da noite, Novo Hamburgo tinha em UTIs 17 pacientes com covid e nove suspeitos.
Na macrorregião Sul, o mapa desta segunda-feira (29) mostra um crescimento de 500% na ocupação de leitos de UTI por pacientes confirmados com coronavírus. Eram dois em 21 de junho e 12 no dia 28, mais quatro suspeitos.
A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), diz que o crescimento é impactante e que, embora os números absolutos não sejam elevados, decidiu encaminhar à Câmara de Vereadores projeto de lei instituindo multas para quem desrespeitar as regras.
Em Rio Grande, 100% dos 10 leitos de UTI covid estão ocupados. O prefeito Alexandre Lindenmeyer (PT) acredita que dificilmente a região escapará da bandeira vermelha na próxima semana, mas não esperou pelo carimbo do governo do Estado e adotou um plano de distanciamento mais rigoroso, levando em conta as características da cidade portuária.
— Aumentamos a testagem para poder enxergar o que está acontecendo, rastrear os casos, tentar frear a contaminação e assim achatar a curva da ocupação de leitos — diz Lindenmeyer.
Mesmo que nem todos os internados sejam de Rio Grande, o esgotamento dos leitos preocupa o prefeito, porque só na próxima segunda-feira a Santa Casa receberá mais seis respiradores. O prefeito alerta:
— Não tem outro jeito. Temos de fortalecer a vigilância. Conseguimos ultrapassar os primeiros 60, 70 dias em situação relativamente tranquila, mas agora a situação se complicou. Se as pessoas não se derem conta de que precisam reforçar o distanciamento, corremos o risco de entrar em lockdown, o que significa prejuízo para todo mundo.