
As togas permaneceram no armário. O plenário onde normalmente ocorrem as posses no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ficou vazio, luzes apagadas e a porta trancada a chave. Por culpa da pandemia de coronavírus, o desembargador André Villarinho assumiu a presidência do TRE diante de uma plateia virtual, em sessão transmitida pela internet.
Em vez das cadeiras pretas em semicírculo, cada integrante da Corte acomodou-se em seu escritório ou biblioteca na própria casa, usando traje social. Apenas Villarinho foi até o prédio da Rua Duque de Caxias para receber da desembargadora Marilene Bonzanini,também de forma virtual, o bastão de comandante da Justiça Eleitoral no Rio Grande do Sul. O novo corregedor, desembargador Arminio da Rosa, tomou posse de sua biblioteca, em casa.
Sentado no gabinete da presidência, entre as bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul, Villarinho falou para a câmera de seu laptop durante 25 minutos. Relembrou o início da carreira, como promotor de Justiça, em Tapera, há 41 anos. Disse que respeita as pessoas e venera os animais. Fez uma defesa apaixonada do papel da Justiça Eleitoral, da liberdade e da democracia:
— A Justiça Eleitoral é um dos pilares da democracia, cumprindo-lhe assegurar eleições livres, legítimas e transparentes, com alternância de mandatos. E a democracia é o alimento da liberdade. Sem liberdade, sem democracia e sem um Judiciário independente e autônomo, o cidadão não encontrará felicidade.
O desembargador falou também do desafio de presidir uma das eleições mais complexas da história, em função da pandemia, já que não se tem nem mesmo certeza sobre a data em que será realizada. Seja em outubro, seja em novembro, Villarinho reafirmou o que dissera pela manhã em entrevista ao Gaúcha Atualidade: o TRE tomará todas as precauções para proteger a saúde dos eleitores, sobretudo os mais velhos, e dos mesários.
Uma das possibilidades é reservar um horário específico para os idosos votarem. Outra, que depende do TSE, é ampliar o horário de votação para reduzir as possibilidades de aglomeração.
Ao final do discurso, até as palmas dos colegas foram silenciosas: com os microfones desligados para não atrapalhar a transmissão, cada um aplaudiu, mas o novo presidente e o corregedor não ouviram. Os tradicionais cumprimentos foram substituídos por vídeos gravados pelas principais autoridades do Estado, exibidos no mesmo canal do YouTube que transmitiu a sessão, devidamente traduzida em Libras.