Foi breve e pouco esclarecedora a primeira manifestação pública do novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, o oncologista garantiu que tudo será tratado de forma “técnica e científica” e despejou obviedades, como se estivesse em janeiro, assistindo ao nascimento da onda de coronavírus na China, e não na metade de abril, quando morrem mais de 4 mil pessoas por dia no mundo e o sistema hospitalar de alguns Estados, como São Paulo, Amazonas e Ceará, caminha para o colapso.
O novo ministro assume com o contador oficial marcando 1.924 mortes e 30.425 casos confirmados, mas as autoridades da área da saúde estimam que os números estão subestimados, porque há milhares de amostras na geladeira aguardando o resultado do teste.
Oncologista respeitado, Teich está desembarcando no universo do SUS em meio à maior crise sanitária da história do Brasil, no momento em que o vírus começa a se espalhar entre a população dependente do sistema público de saúde.
Teich disse que é preciso testar a população, estudar os números, avaliar os impactos de cada medida. É exatamente o que pregava Luiz Henrique Mandetta e o que estão fazendo os governadores.
Todos sabem que é preciso testar, mas não há testes suficientes. Se estivesse em janeiro, quando a China isolou a cidade de Wuhan, o novo ministro poderia correr a encomendar testes, máscaras, respiradores e todos esses insumos que o Brasil tenta comprar, mas não encontra fornecedores.
Equilibrando-se entre o declarado alinhamento com Bolsonaro, a sua formação científica e as convicções em torno da necessidade de isolamento, expressa em artigo publicado recentemente na Folha de S.Paulo, Teich foi evasivo na primeira manifestação, mas disse uma frase que merece destaque:
— Discutir na emoção não leva a nada. Saúde e economia não competem entre si, são complementares.
Dizer que é preciso ter informações sobre o comportamento do vírus, as vacinas e os tratamentos (que ainda estão em fase experimental) é chover no molhado. O mundo não faz outra coisa desde antes de a Organização Mundial da Saúde carimbar a covid-19 como uma pandemia.
O embate que derrubou Mandetta e que Teich terá de administrar diz respeito à volta das atividades econômicas. Bolsonaro quer reabrir o comércio, sempre com o argumento de que a população, principalmente a de menor renda, não aguenta mais e que o isolamento vai incinerar empregos. Diplomaticamente, Teich deixou a porta aberta para afrouxar o isolamento, mas o comando das medidas, hoje, não está com o Ministério da Saúde e sim com os Estados e municípios:
— Precisamos entender mais da doença para sair do isolamento e do distanciamento. A gente vai aprendendo. Existe um alinhamento completo entre mim e o presidente.