A breve participação do ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, na coletiva em que foi apresentado o plano Pró-Brasil, oscilou entre a ingenuidade e o autoritarismo. O ministro começou dizendo que respeita a liberdade de imprensa, mas... e se pôs a criticar o que considera um exagero da imprensa na divulgação de notícias negativas.
— Desde que começou a crise, as pessoas estão muito suscetíveis. No jornal da manhã, é morto e caixão, ao meio dia, morto e caixão. À noite, caixão, corpo, número de mortes.
Como outros integrantes do governo de Jair Bolsonaro, o ministro que mais ênfase aos curados do que aos mortos. Como se não dar destaque ao número de mortos ajudasse a salvar vidas. Continuou o ministro:
— Como uma pessoa idosa, trancada em casa, se sente com a divulgação massiva de más notícias? Tem tanta coisa positiva acontecendo. Divulguem o número de curados, por exemplo. Dizer que 56% foram curados. Divulguem mais o trabalho dos profissionais de saúde para as pessoas se sentirem melhor. A doença tem a parte psíquica. É muita notícia ruim. Precisamos ter o povo um pouco mais sereno para melhorar o moral da população e a sua parte emotiva.
Como o jornalismo poderia ignorar as UTIs superlotadas, a falta de respiradores, o colapso do sistema funerário e os caminhões frigoríficos usados para acomodar corpos? A sugestão do ministro faz lembrar a epidemia de meningite de 1982, que a imprensa, sob censura, estava impedida de divulgar.
O ministro Ramos ignora que os meios de comunicação têm, sim, mostrado números e imagens de pessoas curadas, com destaque para a festa dos médicos e enfermeiras a cada vida salva. Por “curados” entenda-se os testados que se curaram, porque o número de testes no Brasil é baixíssimo.
Tanto há pessoas que contraem o vírus e se curam sem saber qual seria o resultado do exame como há os que morrem e são enterrados com atestado de óbito de pneumonia ou outra síndrome respiratória porque o teste não ficou pronto. A isso se chama subnotificação, um problema admitido por prefeitos, governadores e autoridades de saúde.
A imprensa tem, sim, mostrado o trabalho hercúleo dos profissionais de saúde. Mas não dá para mostrar esse esforço e omitir que faltam equipamentos de proteção individual, que por falta de respiradores os médicos lamentam ter de escolher quem vai morrer e quem terá a chance de ser tratado; que é altíssimo o número de profissionais de saúde afastados porque foram contaminados pelo coronavírus.