O decreto do governador Eduardo Leite que dá autonomia aos municípios para decidirem sobre a extensão das medidas restritivas é temerário. Em vez de uma política unificada, abre a porteira para que, pressionados por empresários, os prefeitos liberem tudo e o vírus se dissemine com maior rapidez. A tendência é de que a partir de segunda-feira (30) o isolamento comece a cair como um castelo de cartas.
Outra preocupação é com a liberação das igrejas. Leite alega que não pode proibir a abertura de templos, porque o decreto do presidente Jair Bolsonaro inclui as atividades religiosas na categoria de essenciais. Por isso, o governo optou por limitar a lotação a 25% da capacidade, o que serve apenas como orientação, já que o setor público não tem como fiscalizar se a determinação está sendo cumprida.
Com razão, o presidente da Famurs, Eduardo Freire, se rebelou em entrevista à repórter Jeniffer Gularte. Freire disse que a unificação das medidas daria mais fôlego aos prefeitos para resistirem às cobranças do comércio, da indústria e do agronegócio pela retomada imediata das atividades, restringindo o isolamento às pessoas com mais de 60 anos ou que têm problemas de saúde.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, Leite justificou que os municípios têm situações diferentes e que não seria razoável manter as mesmas regras para todos. Deputados da base aliada, incluindo o líder do governo, Frederico Antunes, aderiram à tese das federações empresariais de que o Estado não pode parar, sob pena de morrer mais gente de fome do que pela covid-19.
O prefeito de Passo Fundo, Luciano Azevedo, é um dos mais preocupados com o decreto do governador que dá autonomia aos municípios para decidirem sobre medidas restritivas e faz coro ao presidente da Famurs.
Azevedo teme que os prefeitos de pequenas cidades, mais suscetíveis à pressão dos empresários, acabem levantando as restrições e abrindo caminho para a contaminação em massa pelo coronavírus.
— Estamos fazendo tudo para as pessoas ficarem em casa. O decreto do governador gera um efeito de desmobilização na sociedade. Vai na contramão de tudo. Agora que ele devia usar a força para nos ajudar — desabafa Luciano.
O prefeito sabe que se houver um salto no número de casos, o problema acabará estourando em Passo Fundo:
— Os municípios menores aqui da região já falam em liberar tudo. Aí estoura em Passo Fundo, que já atende os pacientes de outras cidades. Nenhum doente vai se internar no Piratini.
Outra preocupação de Azevedo é com a liberação dos bancos e igrejas, mesmo que com lotação limitada a 25% da capacidade.
— Quem vai fiscalizar? São dezenas de bancos e centenas de igrejas. Como? Contar as pessoas igreja por igreja? — pergunta.