Sempre que alguém diz "não tenho tempo", penso que essa pessoa deveria conhecer o doutor J.J. Camargo, um homem que não sei se classifico na categoria dos gênios ou dos mágicos. Não porque ele seja o único médico capaz de driblar o tempo, mas pela forma como administra suas múltiplas habilidades, uma agenda imprevisível e a montanha de compromissos previsíveis. Pois esse homem que há 30 anos transplanta pulmões e devolve o ar a pacientes que mal respiram encontra tempo para escrever crônicas inspiradoras, semear esperança e dar lições gratuitas de humanidade.
Como se fosse pouco, dá aula de cirurgia torácica na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, dirige o Centro de Transplantes da Santa Casa de Misericórdia, viaja o mundo fazendo conferências, frequenta as reuniões da Academia Nacional de Medicina, escreve livros técnicos e, mais importante, arranja tempo para ouvir. Ouve os pacientes com suas queixas e histórias de vida e morte. Ouve os futuros médicos cheios de inquietação. Ouve e faz do cotidiano a matéria-prima dos textos com que, semanalmente, brinda os leitores de Zero Hora. Suas palavras são a alma do caderno Vida.
De tempos em tempos, essas crônicas reaparecem em livros ao lado de outras que todo estudante de Medicina deveria ler diariamente, de preferência antes de dormir. Nesta semana saiu Se Você Para, Você Cai (L&PM). Não pude ir ao lançamento, porque estava adoentada, mas encontrei meu exemplar autografado assim que retornei ao trabalho. Obrigada, doutor. Se Você Para... vai fazer companhia a Do que Você Precisa para Ser Feliz?, A Tristeza Pode Esperar, O que Cabe em um Abraço e Não Pensem por Mim. Comprarei dois exemplares para doar a minhas sobrinhas Júlia e Laura, que serão as primeiras médicas da nossa família.
Sou uma leitora privilegiada das crônicas do doutor Camargo. O caderno Vida roda mais cedo e, quando chega à minha mesa, paro tudo e corro direto para a página 2. Às vezes, corre uma lágrima, em outras sinto a ternura de suas palavras fazendo amena a tarde árida dos embates políticos. Quase sempre termino com vontade de escrever para jjcamargo.vida@gmail.com e agradecer pelo presente. Resisto o quanto posso, preocupada em não atrapalhar, mas, quando mando uma cartinha, a resposta vem no mesmo dia, carregada de generosidade. E me pergunto: de onde esse homem tira tempo?